A HECATOMBE NORTE-AMERICANA
                                    Sérgio Martins Pandolfo*   

      Canais televisivos do mundo todo, alguns em tempo real e integral, transmitiram no dia 11 de setembro de 2011, data que assinalava os 10 anos da ocorrência deste que foi o maior e mais terrificante atentado terrorista do mundo ao longo dos tempos, o atentado às Twin Towers de Nova Iorque, as cerimônias de homenagem às vítimas, cerca de três mil. Cerimônias tocantes – e justíssimas, afinal vítimas mortais inocentes foram imoladas -, algumas capazes de sensibilizar os corações mais empedernidos e refratários.

     Tudo muito bom e muito bem, mas fica-se a pensar: não seria o momento de as autoridades norte-americanas esquecerem o pouco tempo faltante para as próximas eleições presidenciais e penitenciarem-se da morte de milhões - repita-se, milhões! – de vítimas mortais ou mutiladas que foram atingidas pelos ataques arrasadores da descomunal máquina de guerra yankee no Afeganistão e no Iraque?
    Como resposta quase que instantânea ao atentado ao WTC – condenável por todos os modos -, passada a estupefação inicial e compreensível, veio a vingança cruel, inapelável e indetenível de Bush no Afeganistão, país apontado como possível abrigo/esconderijo de Ozama bin Laden, cabeça mentora da Al Qaeda, aparelho terrorista que assumiu a ousada e inédita ação, sem antes checar a informação, procedendo a uma investigação inteligente para confirmar a suspeita de acolhimento ao terrorista.
     Com fúria avassaladora bombardearam o país inteiro, explodiram as cavernas naturais, majestoso acervo geopatrimonial da humanidade, algumas delas servindo de residência aos naturais; destruíram lares, hospitais, escolas, museus (de onde, comenta-se, levaram peças raras) mercados, aeroportos, estradas, pontes; mataram milhares de civis inocentes, deixando viúvas e filhos ao léu, aleijaram outros tantos, com o sacrifício de centenas de soldados pra lá mandados e um gasto trilionário para, ao cabo de uma década, constatarem que bin Laden não estava lá, eis que foram encontrá-lo, e o mataram, no Paquistão, em empreitada que afrontou todos os ditames de respeito internacionais, com violação do espaço aéreo do país e da incolumidade do lar que era ocupado pela família de Ozama (esposas, filhos, etc.), com a morte de alguns deles e sumiço do corpo do enfermiço e já aposentado terrorista que foi, segundo os próprios executantes da ação, “jogado ao mar”. A guerra contra os afegãos, iniciada por pura vindita de Bush persiste ainda, com muitos milhares de soldados norte-americanos e de outras nações, embora tenha sido já dada como perdida.
     Faltava, contudo, liquidar o “ditador” Saddam Hussein, que vinha sendo “demonizado” havia já bom tempo e, para tal, houve que ser forjado “relatório secreto” provando que Saddam possuía “armas químicas de destruição em massa”, nunca encontradas, a justificar longa e sangrenta guerra contra o líder iraquiano, finalmente aprisionado, humilhado, submetido a julgamento caricato e morto. Nessa guerra morreram mais de um milhão e meio de pessoas, grande maioria civis inocentes, mas a manutenção do fornecimento de petróleo aos EUA com petrodólares ficou assegurado.
     Dois depoimentos levados ao ar pela Globo impressionam e atemorizam. No primeiro o jornalista Geneton Moraes Neto entrevista um ex-soldado americano que virou pacifista após participar de violentas operações no Iraque. “Quando fui ao Iraque, pensei que iria encontrar um país povoado por terroristas. Descobri que nós é que éramos os terroristas”, desabafa o ex-soldado que vivia atormentado e tencionava suicidar-se. No segundo, Susan Retik, viúva de um americano morto no ataque ao WTC, que recebera um milhão de dólares de indenização do seguro sentiu-se na obrigação de ajudar às viúvas afegãs que, diferentemente, passam a viver sob o teto da família, quando as aceitam, sujeitas a tudo que se lhes impõe, inclusive casarem-se com cunhados - pois outros homens não as aceitam -, ou são expulsas de casa ficando, literalmente, na rua da amargura. Quão triste espetáculo!

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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 16/09/2011
Reeditado em 16/09/2011
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