OS ESCALÕES DO DECLÍNIO IANQUE
                                                                  Sérgio Martins Pandolfo*
   
    Há exatos dez anos inserimos em O Liberal texto ainda hoje preciso e atual, do qual pinçamos pequeno trecho a seguir reproduzido:

   Aos olhos de exímios observadores da política global e à vista dos últimos indicadores econômicos, sociais e geopolíticos, era de clareza solar, cristalino como água da fonte, o acelerado processo de deterioração, de queda em plano inclinado, da poderosa e hegemônica potência do Norte, seguindo o já cediço e surrado – mas indefectível -, determinismo histórico, a que todos os grandes impérios, um após outro, foram inexoravelmente submetidos ao longo da história: babilônio, egípcio, grego, romano, otomano, austro-húngaro, britânico e, por fim, mas seguramente não o último nem o melhor (last, but not the best), o norte-americano, que estamos vivenciando”.
    Dizia-se então, pelo andar dos fatos e das evidências, ser “o princípio do fim”. Após o “hollywoodiano” e fulminante ataque perpetrado pelas “forças do mal”, contra o símbolo maior da opulência e do poder econômico-financeiro (torres gêmeas) e do militar (Pentágono) da águia do Norte, mostrando pela TV, para a globalizada estupefação dos terráqueos, os pés de barro do gigante humilhado, ficou bem claro, nítido, insofismável, que esse ataque terrorista só veio precipitar - ou consumar – o “fim do princípio”. O emérito sociólogo italiano Domenico de Masi, referindo-se ao ataque terrorista às torres gêmeas disse, meio profeticamente, que: “em11 de setembro começou a decadência do império americano e a ascendência dos bárbaros” (no Império Romano, bárbaros eram os que dele não faziam parte), eis que o episódio precipitou o deslanche de duas guerras aniquiladoras.
   É mister não perder de vista que o ataque às torres foi, de fato, ato terrorista brutal e de todo condenável, mas que já houvera disso precedente: o lançamento das duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, quando a 2ª Guerra Mundial já havia acabado, matando cerca de 250 mil pessoas da população civil para auferir o real efeito desses artefatos, até então desconhecidos, o que aterrorizou o mundo.
    Os EUA julgavam-se a salvo de toda sorte de ataques, por não terem inimigos naturais, posto que suas costas oeste e leste, banhadas pelos oceanos Pacífico e Atlântico, respectivamente, garantem total defesa. O Canadá ao norte, cuja estreita faixa territorial habitada por escassa população mais não é que uma sucursal americana quanto aos negócios e finanças e que ainda cultua a rainha da Inglaterra como chefe de estado monárquico. O México ao sul, conquistado décadas antes em bélicas pelejas, tem fronteiras delimitadas a gosto do “Tio Sam” e, hoje, até amuralhadas. O ar totalmente guarnecido e preparado para a aleatoriedade de uma “guerra nas estrelas”. Segurança total, absoluta! Ledo engano: foi por lá que penetrou o inimigo, decepando a orgulhosa cabeça do impávido colosso do Northern Big Brother.
    A decadência lenta e gradual que se vinha arrastando havia já pelo menos duas décadas agudizou-se mais aquando da 1ª Guerra do Golfo, ocorrida em 1991, contra o Iraque – quando pudemos ver, entre atônitos e estarrecidos, os espetaculosos “bombardeios cirúrgicos” -, para “libertação” do Kuwait, liderada pelos EUA, ainda sob Bush pai. Muitos trilhões literalmente viraram fumaça, sufocando a já abalada economia yankee. Contudo o ataque ao WTC foi insuportável, para o egocêntrico e rabioso caubói Bush filho, que num lampejo de ódio vingador invadiu o Afeganistão – estão até hoje! – e logo a seguir o Iraque, que o pai, um pouco mais responsável e condescendente, houvera por bem poupar.
    A sangria praticada em plena jugular do já combalido erário ianque foi além da conta, a ponto de dobrar, em uma década, a dívida externa nortenha de curto prazo, que necessitou de emergencial e salvadora transfusão de mais quatro trilhões de dólares, ao apagar das luzes autorizada pelo Congresso. Alívio geral para o “Resto do Mundo” que pôde, enfim, dormir aliviado. Coisa para rolar mais uns três anos.

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*Médico e escritor.  ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com  -  serpan@amazon.com.br www.sergiopandolfo.com
                                   
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 23/09/2011
Reeditado em 23/09/2011
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