VIRÁ ENFIM UM PRÊMIO NOBEL?
                                                    Sérgio Martins Pandolfo*  
 

      Os divisionistas do Pará acabam de resolver um dos mais intrincados problemas matemáticos, que se arrastava desde a mais remota Antiguidade a “descabelar” os geômetras: a quadratura do círculo. Com efeito, estão a propalar eles que excluídas as áreas federais de preservação ambiental (reservas florestais) e terras indígenas, os três estados que estão propondo a partir da tricotomia do Pará, a saber: Tapajós (58% do Estado), Carajás (25%) e o Pará residual (só 17% da área atual) ficariam praticamente do mesmo tamanho, até mesmo com pequena margem de ganho para o Pará-Mirim.  
      Uhau! Tudo indica que nosso País vai finalmente abiscoitar um tão ansiado Prêmio Nobel, na área das ciências matemáticas. É verdadeiramente incrível a capacidade que têm esses mercadores de ilusão de manipular os números, subverter estatísticas, provar o improvável. Então façamos um trato: ao Pará-Mirim tocariam os 17% que nos oferecem de lambujem e mais as áreas indígenas e de preservação ambiental (que estão sob tutela da União) e não se fala mais nisso; nem precisa mais fazer plebiscito, que isso é coisa muito cara e de resultado “incerto e não sabido”, que os sabidos congressistas alienígenas propuseram, à farta mesa e vinho bom, como ação entre amigos, depois oficializado por também alienígenas (alguns deveriam estar sob cuidados de alienistas) e votados à socapa em sessão congressual adrede “ajeitada”.
      Mas além de os três estados ficarem com áreas “úteis” iguais, vão igualmente passar a nadar em dinheiro como “nunca antes ‘nesse’ País”, tal como se depreende das professorais conclusões emitidas após “minucioso e exaustivo estudo” procedido pelo “mais importante comentarista econômico do País” (sic), Sr. Paulo Henrique Amorim, especialmente contratado pelas frentes separatistas.
      Nosso grande Pará ainda tem muito índio, que estimamos e respeitamos, mas não só deles se compõe a população parauara. Querer enfiar ouvido adentro que Amorim é o maior comentarista de economia “desse” País é pra dedéu e merece reparos. Quem sabe a emissora em que ele agora emite superimpostados comentários acerca de mazelas político-policiais Brasil afora o chama às falas? Judas se vendeu por “trinta dinheiros”; qual teria sido o quinhão dele? Diz a sabedoria popular que “quem se vende não vale a quantia paga“. Que sabe esse senhor dos engrimanços faciais sobre nossa terra? Vai ver, nunca terá talvez aqui estado, a não ser em televisivas aparições a conclamar os atônitos teleassistentes a sintonizar a emissora que hoje o acolhe.
      “Nossos índios não comem ninguém”, diz a letra de um de nossos “hinos” parauaras, mas também não pastam capim; ao revés, degustam as iguarias de uma culinária deliciosa, que é única e autêntica em nosso País. E o gentio parauara, aquele que aqui nasce naturalmente e por gosto, é um povo feliz, autenticamente ufano de seu chão de ricas florestas e rios gigantes, diferentemente daqueles que para cá vieram movidos unicamente pela cobiça e, como pregou o Pe. Antônio Vieira, “não querem o nosso bem, querem os nossos bens”. Esses sim nasceram obrigados em sítios outros em que não lograram o sucesso almejado, tanto que tiveram de migrar para o eldorado amazônico à busca de melhores condições de vida e oportunidades que o solo natal madrastamente lhes negara. E vieram vindo: dezenas, centenas, milhares, ultrapassaram o milhão, um benzetacil de gente a coriscar insidioso choque anafilático.
      Da Profª Clara Pandolfo, que como ninguém conhecia cada palmo de terra deste chão ouvimos, reiteradas vezes, dizer com a convicção que tal conhecimento lhe propiciava: o Pará será o estado a ocupar, muito breve, lugar de destaque entre as demais unidades, em virtude de estarem aqui as condições propícias para tal (esgotadas em muitas outras), tais: magna biodiversidade, solo fértil, água abundante (maior reserva planetária), minerais preciosos, terras agricultáveis fartas com baixa densidade demográfica, quase inesgotável potencial de eletrogeração, etc. E não para aí!
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*Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 02/12/2011
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