Em nome da governabilidade

EM NOME DA GOVERNABILIDADE

A tal governabilidade revela-se uma faca de dois gumes, além de uma armadilha para quem quer governar. Nos países adiantados, onde a democracia é fato consumado, as dissensões políticas acontecem até a eleição. Depois de corrido o pleito, vencedores e vencidos fecham campanha em favor do país, esquecendo ódios e picuinhas do período eleitoral. Disse nos países adiantados, porque no Brasil, com essa pífia vocação que temos para a democracia, os perdedores não só torcem como também fazem o possível para que o governo eleito não dê certo, para dar razão aos seus argumentos e preparar o retorno para dali a quatro ou oito anos.

Não sabem que torcendo contra o governo constitucionalmente eleito, eles trabalham contra a nação. Saber eles sabem, mas não estão nem aí, tudo em nome de interesses menores.

Em consequência dessa distorção, os governos, seja no nível que for, tem que fazer acordos, muitos deles espúrios, com as oposições, sob pena de ter suas ações totalmente bloqueadas pelos adversários e ter enorme dificuldade em aprovar qualquer projeto. Por causa dessa pobreza política, instaurou-se no Brasil a filosofia do “é dando que se recebe” ou do “toma-lá-dá-cá”.

Há dias uma pessoa me comentava a respeito dos ministérios da presidenta Dilma. Por que dá tanta zebra? Acontece, e esse é o fato gritante da nossa política, que o governante, seja no âmbito federal, estadual ou mesmo municipal, se vê obrigado a fazer alianças com partidos que vão formar a base governista, sem a qual ele não poderá governar. Essa aliança é “comprada” através de cargos, a partir dos ministérios e escalões subalternos.

Via de regra, o governando nem conhece quem é seu ministro, ele vem indicado pelo partido, que aproveita alguém que não foi eleito ou coisa parecida. Aquela história de ser submetido a uma “sabatina” pelo Congresso é uma farsa, pois nunca se ouviu dizer que alguém tenha sido reprovado nesses certames. Vale aí mais o corporativismo e o acesso ao poder que a “ficha suja” ou quaisquer maus antecedentes..

É inaceitável, ética e moralmente falando, que os partidos – alguns até adversários históricos – façam alianças, impondo auferir essas benesses, para não fazerem oposição ao governo e aos interesses do país.

O negócio é tão safado que os partidos medem suas conquistas não pela dimensão do serviço que podem executar, mas pelos milhões (ou bilhões) de reais que remontam o orçamento de cada pasta.

Em resposta ao interlocutor que me indagou sobre a indignidade de alguns ministros, que assumem e logo caem do cavalo, tenho a dizer que a escolha dos nomes não é feita pela Presidenta, mas já vem embutida no contexto dos partidos aliados, cujo interesse é mais corporativo do que em favor da cidadania. Lamentavelmente!

Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral