DETERMINISMO HISTÓRICO
                                                       Sérgio Martins Pandolfo*
   

       O plebiscito de domingo passado marcou um dos mais importantes momentos históricos vividos em nosso Estado, desde aquele já alonjado 15 de agosto de 1823 quando se deu a adesão do Grão-Pará à Independência do Brasil
       Maus brasileiros e ingratos forasteiros que para cá vieram à busca de oportunidades e boas condições de vida, foram recebidos – como é da índole do gentio parauara – fraterna e amigavelmente e, após enricarem de forma nem sempre rigorosamente correta voltaram-se contra a casa de acolhimento e, pior que isso, tentaram jogar nossos irmãos do oeste, sul e sudeste do Estado contra nós, viventes dos 17% que nos sobrariam do solapamento de nada menos que 83% de nosso território perpetrado pela tricotomia do Estado, subvertendo uma situação que sempre nos aligou, irmãos que somos de origem e de sangue, coisa que o povo parauara, herdeiro do brio e da valentia cabana, não permitiu.
      Os paraenses costumam dizer, com uma ponta de sarcasmo e um pugilo de orgulho que: “É aqui que os famosos se acabam”. De fato Belém ficou conhecida por essa feição de verdadeiro determinismo histórico que seus habitantes não se cansam de trazer à baila, i. é, o fato de que nomes famosos,  de pessoas ou coisas que granjearam notoriedade por grandes façanhas, boas ou más, hajam terminado seus dias sob glórias ou  opróbrio da sociedade.
      Repertoriar tais exemplos seria assaz fastidioso e não caberia no restrito espaço deste artigo, mas não nos furtaremos, só para pôr relevo, a referenciar alguns deles. Dos mais citados é o caso, diz-que único no mundo, de uma fábrica da Coca Cola aqui instalada que faliu. O magnata norte-americano Percival Farquhar explorou negócios milionários nas Américas, inclusive no Brasil (máxime no Sul), ferrovias e minas e financiou o porto de Belém, que não chegou a concluir, pois abriu falência. Mais proximamente o bilionário norte-americano Daniel Ludwig, maior proprietário individual de terras no Ocidente, que implantou aqui o Projeto Jari também não escapou de desdita falimentar. O grande compositor e maestro Carlos Gomes, nascido em Campinas, alcançou o pináculo da glória na Europa, berço e cenáculo da ópera, então; doente, voltou ao Brasil (São Paulo, Campinas) nada obtendo de auxílio financeiro e lenitivo para suas dores; acolhido aqui por Lauro Sodré, que o admirava e nomeou Diretor do Conservatório de Musica de Belém, veio a falecer pouco tempo depois sob o clamor pungente do dissabor dos paraenses. No mundo da Sétima Arte tivemos o grande Syn de Conde (nascido Sinésio Mariano de Aguiar), primeiro ator brasileiro a vencer e brilhar em Hollywood. Amigo e confidente de celebridades. Quando viu o sucesso e a fama caírem mudou-se para Belém, sua cidade berço.
       Na senda do crime apontam-se marcantes exemplos como o do famigerado “Peruano”, aí pelas décadas de 1950/60, estuprador temido que vitimou várias mulheres em seu país e em outros da América do Sul. Aqui chegado, igualmente abusou de algumas “moças de família”, mas foi logo preso e jogado no temível “pátio da Central”, onde foi barbarizado por uma turba de sicários que dele se serviram à farta por uma noite toda; no dia seguinte foram encontrá-lo em lastimável estado, vítima de abusos múltiplos, o que deu origem a uma chula expressão regional que, por tal, não registramos. O “monstro do Morumbi” acossado após estuprar e matar sete mulheres em São Paulo, fato assaz explorado pela mídia, fugiu para Belém onde fez também três vítimas, em condições semelhantes, sendo em seguida preso e recambiado para a capital paulista.          
       Agora é Duda Mendonça; havido como marqueteiro político imbatível, que produziu verdadeiros milagres publicitários, aqui caiu em rio de piranhas. Escambimbado por impiedosa tunda botou o berimbau no saco e tomou rumo decerto que bem sabido: foi pôr-se à frescata sob os coqueiros de Itapoã; de lá consta que seguiria para Portugal, a encabeçar campanha de convencimento popular para construção de uma rinha de galos. Em Barcelos. 

Nota: A foto ao alto é da capa de Veja, ed. extra, de dezembro de 2011
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 15/12/2011
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