Encachoeirado caudal de corrupção
                                                 Sérgio Martins Pandolfo*   
           A fama é efêmera, mas a infâmia é infinda”. SerPan
     Em uma das sessões abertas do STF o Ministro Ayres Britto, um dos mais cultos, coerentes e capazes dessa magna corte proferiu uma frase que bem se poderia classificar como lapidar cum laudæ, tal a propriedade e precisão com que se aplica ao problema a que alude:Há quem chegue às maiores alturas só para cometerem as maiores baixezas”.
     Assomou-nos a máxima tão logo tomamos conhecimento deste maligno, descarado e encachoeirado caudal de corrupção que avassalou a alta casa de leis deste nosso auriverde patropi, promovido por um dos mais nobres, eminentes e combativos senadores, havido como acima de qualquer suspeição, que impressionava e impregnava de esperanças os seus pares e aos que o ouviam ou viam (como nós, que temos por hábito, vez em quando, sintonizar a TV Senado) lançar suas convincentes catilinárias e imprecações contra os corruptos e/ou corruptores da Nação, logo preconizando a pena de prisão aos pegados em falta grave ou imediata cassação de mandato se o falcatruante fosse um de seus colegas de parlamento, por isso que era mais temido que o Demo.
    Agora viu-se que esse “representante do povo”, regiamente pago com o suor suado (vale a redundância) do contribuinte, que vê, a cada fim de mês, parcela significante de seu salário – tido como renda, não fora essa espórtula quase sempre usada para exclusiva  manutenção das necessidades de sobrevivência do laborante e subsistência de seus  assistidos – escorrer de suas mãos para sustentar  os arautos e atores da democracia  “à brasileira”, que iria resolver todos os males e misérias do País, chafurdava  em uma viçosa corriola de  malfeitores que incluía bicheiros, traficantes, “bingueiros”, empresários de máquinas caça-níqueis,
empresas de produtos farmacêuticos (cruz-credo!), parlamentares de todos os níveis e vários partidos, governadores, juízes et caterva, que se autorrefocilavam.
     Mas, como sói ocorrer nos tempos atuais em nosso “blindado” parlamento, o demoníaco tribuno doutrora logo se disse inocente e não sabedor de nada. Ameaçado de expulsão pelo partido que o
acolhera, primeiro blasonou seus feitos e virtudes pregressas, chegando mesmo a entremostrar veladas ameaças; depois, pegado de roldão na ciranda das gravações da Polícia Federal que o investigava havia já um tempo, anunciou peremptoriamente que não renunciaria ao mandato, pediu sua desvinculação do partido, para evitar a expulsão ou eximi-lo da renúncia, com perda de seu privilegiado foro. É muito desaforo!
    Muita água, porém, ainda iria borbotar dessa cachoeira pútrida. Seu sanhudo causídico (o próprio advogado do Demo), após estudar, junto com seu preclaro cliente, circunstanciadamente as gravações, viu inconstitucionalidade nas ditas cujas (legítimas, pois que autorizadas) que o ligavam, indubitavelmente, à súcia já referida, anunciou que irá pedir a anulação de todo o processo investigativo alegando, precisamente, o inarredável direito de seu cliente ao tal foro privilegiado. Privilégio que o fará passar de réu a acusador. Os últimos capítulos, ops, vídeos das gravações mostraram-nos que “o Demo é o cara”, eis que se estava a articular a travessia dele para um partido muito maior e mais próximo do Palácio, a permitir, assim, que mais adiante pudesse ele – quem sabe? – vir a ser cogitado ou mesmo escolhido como candidato a candidato ao posto maior da hierarquia governamental desta nossa emergente e futurosa Nação. Que até já faz parte dos BRICS, ora pois! Te mete!                                
    Nosso rico dinheirinho vai sendo assim desviado, tomando rumo “incerto e não sabido”, razão pela qual não é suficiente para reparar a sangria nos “benefícios” (?)  dos aposentados que, se tiverem a desdita de viver um pouco mais os terão reduzidos ao rés do salário mínimo e os serviços de saúde (SUS) disponibilizados aos cidadãos comuns amargam a bagatela que lhes é destinada, já que Suas Excelências vão de “Albert Einstein” e “Sírio-Libanês”.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br
www.sergiopandolfo.com
                                                      
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 13/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
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