O BOBO DA CORTE

Na semana passada aconteceram as convenções partidárias para escolher os candidatos aos cargos de prefeito e vereadores.

No Amazonas aconteceu que o senador líder do Governo no Senado, foi recepcionado no aeroporto (em reforma) por uma baderna de correligionários de seu partido e alguns jornalistas bem pagos – esses últimos foram incumbidos de reportar a chegada “triunfal” do “chefe” do grupo governista estadual. A encenação não convenceu ninguém e o tiro saiu pela culatra.

É notório que os governadores foram eleitos há dois anos. Mas, parece que o senador não sabia. Chegou dizendo que “O Omar é o governador!” Ficou parecendo que o governador precisava da aprovação do senador para governar (primeira gafe).

Quero acreditar que o jornalista errou quando noticiou a fala do senador “Ele comanda. Para o bem e para o mal.” (o governador não governa para o mal) talvez o senador quisesse retificar a autonomia do governo estadual e portanto, o correto seria “Ele comanda. Para o bem (ou) para o mal” (segunda gafe).

E foi mais longe ainda (foi noticiado). A candidata consensual do grupo político, que se preparava a um ano, foi a casa do senador e de lá saiu transtornada com a conversa que teve com seu líder, de tão traumática que foi, reuniu a família e enviou comunicado à Imprensa informando que não era mais candidata. Acho que nessa visita a Manaus o senador conseguiu desagradar a todos os aliados.

O governador, como todo bom estadista, diante dos exageros de seu aliado, diante do terreno infértil à diplomacia, se recolheu ao seio da família e ao silêncio.

Foi culpa do stress ou o quê?

Talvez a deselegância nas atitudes do senador se deu pelo fato de ter recebido a incumbência de líder do Governo no Senado e ter percebido tarde que não possui o molejo e o preparo necessário para executar a função que lhe foi designada. Como líder do Governo no Senado, o senador deveria desembarcar e noticiar que as mãos estavam cheias de recursos para aplicar no Amazonas e na Zona Franca de Manaus. Uma notícia como essa valorizaria e muito sua imagem. Aconteceu o contrário. O senador chegou de mãos vazias.

Eu que tantas vezes observei do último piso da rodoviária a grandiosidade da Esplanada dos Ministérios e vaguei nos imensos salões do Congresso. Visitei diversas vezes o pequeno museu subterrâneo na Praça dos Três Poderes, onde existe uma pequena maquete do Plano Piloto. Perdi a conta das vezes que contemplei o monumento dedicado aos nossos parentes nordestinos que ajudaram construir Brasília “Os Candangos”. Refugiava-me na sombra da deusa “Têmis” (antes de existir aquelas grades) e ficava encabulado com a morosidade e as decisões absurdas que acontecem no Supremo Tribunal. Divertia-me com os rituais da Guarda Presidencial no Palácio do Planalto... Posso imaginar a frustração do senador acostumado a “destituir” de suas funções alguns peixinhos da água doce que ousassem contrariá-lo.

Foi justamente para “o mar” de Brasília. Marinheiro de primeira viagem, sendo obrigado a olhar de baixo para cima os “Comandantes” das facções partidárias – José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Aécio Neves, Blairo Maggi, Álvaro Dias, Ana Rita, Cristovão Buarque, Eduardo Suplicy, Francisco Dornelles, Garibaldi Alves, Jader Barbalho, Marta Suplicy, Romero Jucá e tantos outros.

Os “tubarões” negociando interesses políticos e pessoais com o “bacalhau” do Amazonas.

Ali tem todos os ingredientes necessários com que os “comandantes” possam fazer uma boa calderada.

O esforço para ser escolhido líder do Governo no Senado foi, no mínimo, precipitado. Agora é esperar e torcer para que o peixe do Amazonas ao procurar escapar daquela panela, não seja transformado em bobo da corte.

Escritor e aprendiz de poeta