COMISSÃO DA VERDADE

“Num tempo página infeliz da nossa história,

passagem desbotada na memória

Das nossas novas gerações

Dormia a nossa pátria mãe tão distraída

sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações”

(VAI PASSAR- CHICO BUARQUE)

Pouco mais de duas décadas da programação da nova constituição percebeu-se avanços significativos na ordem política, social e econômica do Brasil. Mesmo assim, um povo recém saído de um regime ditatorial, leva tempo para se acostumar com com os novos tempos. É como um doente que passou muito tempo no CTI, sua recuperação total passa por um período de readaptação. Da mesma forma, a conquista da liberdade, ainda carece de ajustes para ser realmente efetivada.

Assim, “a Lei 12.528/11 criou, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição de 1988, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional” (PEREIRA, 2012).

No entanto, A construção da democracia é um processo lento e doloroso, pressupondo muito debate, discussão e principalmente transparência. A apuração dos fatos ocorridos durante o período das ditaduras militares (1946 e 1964) levará a elucidação de acontecimentos não devidamente explicados, até agora. Entretanto, a exposição da intimidade dos regimes de exceção, acarretará riscos de acirramento entre os apoiadores do “militarismo” e aqueles que evidentemente foram atingidos pela ditadura militar.

Por outro lado, a transição para o Estado de direito foi um ato consentido e gradual. As forças que idealizaram e apoiaram a ditadura, ainda dispõem de muito poder na atual conjuntura. Portanto, corre-se também, o risco da COMISSÃO não apurar nada. Daí, a mobilização popular no acompanhamento dos trabalhos da comissão constituir o caminho mais seguro, capaz de evitar a possibilidade de mais um grande engodo.

Finalmente, espera-se que a exposição dos atos de barbáries, com a abertura dos arquivos da ditadura, traga mais luz sobre a recente história brasileira. Dando assim, um passo decisivo rumo a uma nação realmente democrata. Ademais, que a abertura dos porões da ditadura, mostrando toda a sujeira cometida, torne as pessoas desse país avessas a medidas simplistas e autoritárias. Pois a verdade exposta ensinará a todos indistintamente, impedindo-as de cometer novamente, os mesmos erros.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 09/07/2012
Reeditado em 24/07/2012
Código do texto: T3769428
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