O significado na Venezuela

O SIGNIFICADO DA VENEZUELA

Mais do que índices econômicos e sociais, a entrada da Venezuela no bloco do Mercosul tem um significado político que vai além da inclusão de um país que se situa no quinto lugar do PIB da América Latina, atrás do Brasil (2.505 milhões de US$), do México (1.154), da Argentina (445), da Colômbia (368). Na Verdade, os 315 milhões de dólares do seu Produto Interno Bruto (dados de 2011) não dão a panorâmica sobre o potencial econômico do país governado por Hugo Chávez.

Único país da América Latina a integrar o seleto grupo da OPEP (Organização dos países exportadores de petróleo) situada em nono lugar na produção mundial de petróleo (á frente do Brasil e do México), a Venezuela integra a organização desde a primeira hora (1960) e é, efetivamente, sem demagogias ou desvarios ufanistas de outros, o único país do bloco realmente autossuficiente em petróleo.

Com a prática usual dos Estados Unidos em demonizar todos aqueles que não se afinam com seu ideário sociopolítico, a Venezuela esteve marginalizada dos grandes negócios da América Latina, assim como Cuba e outros países do resto do mundo. A ascensão do “comunista” Chaves ao poder venezuelano deflagrou essa tentativa de boicote à nação latina. A Venezuela há muitos anos busca alternativas de integração, através de propostas de inclusão em diversos mercados comuns. A República Bolivariana da Venezuela trabalhou por muitos anos para se integrar no Mercosul, o que agora, pela exclusão temporária do Paraguai, se concretizou. Globalmente, ela busca a formação de um mundo multipolar baseado no fortalecimento dos laços socioeconômicos e diplomáticos entre os paises em desenvolvimento (Terceiro Mundo).

A crítica venezuelana à ALCA (Área de livre-comércio das Américas) foi contra um jogo viciado, de cartas marcadas, onde a disparidade entre os parceiros era tamanha, que inviabilizava qualquer possibilidade de negociação em mesmo nível. Era como um impossível diálogo de um lobo e um rebanho de cordeiros. Esse boicote lhe valeu um brutal anátema norte-americano, que englobou economia, política e ideologia. O fracasso da ALCA se deve a essas críticas.

Deste modo, a abertura do Mercosul à Venezuela, em paralelo aos interesses políticos e econômicos, aponta como que um brado libertário do bloco latino-americano às pressões dos Estados Unidos. Trata-se de um gesto de não-conformidade do Brasil e dos demais países do mercado à política radical da Casa Branca. Devemos ser iguais, parceiros, jamais subservientes. Esta abertura ora verificada é uma demonstração de maturidade política e imunidade a quaisquer coações ideológicas que não podem nem devem regular as relações econômicas das nações. O país Venezuela e seu povo são muito mais do que o período de governo de Hugo Chávez.

Escritor, filósofo e ex-professor de Ciência Política