A politica(gem) em Amargosa

A politica(gem) em Amargosa

Wilson Correia

Ninguém é político e cidadão pelo simples fato de existir. A participação política requer envolvimento com o corpo político do qual fazemos parte, onde estamos e como nos encontramos em meio às cidadãs e aos cidadãos integrantes do contexto humano a que pertencemos.

Em função disso, tenho assistido e vivido alguns processos nos quais as características da política(gem) em Amargosa impressionam e precisam ser verbalizados, se é que temos, pela raiz, compromisso com a educação e com o debate sobre as formas de esclarecimento da cidadania nesses momentos de nossas vidas e histórias.

A primeira coisa que me desperta é a tal da política feita na base do “contra o homem, contra o humano, contra a pessoa”. Nessa modalidade de fazer política, o que conta não é o pensar em um conceito de cidade, programas e propostas visando a satisfazer necessidades e a resolver os problemas que nos atingem.

É aí que entra a segunda característica, que é a vulgarização da palavra. Aqui, a faculdade da fala, roupagem da mentalidade reinante, torna-se uma arma e um recurso à veiculação de promessas, ataques, maledicências, ofensas e achincalhamento chulo do adversário. Nessa onda, programas e propostas ficam do lado de fora de todo e qualquer evento de que se participe.

A terceira característica é um misto de coronelismo machista e patrimonialismo assistencialista eleitoreiros e desprovidos do menor pudor. Só pode fazer política o patriarca que tenha um curral e pode colocar cangas em sua boiada? Só pode fazer política quem tenha recursos e disposição para comprar e vender consciências? A mulher não pode fazer política? Em uma cidade em que foi preciso surgir a figura de uma mulher guerreira para colocar os pingos nos is e transformar a prática política em algo mais republicano, hoje uma candidata sofre quando, para coronéis machistas e endinheirados que fazem assistencialismo politiqueiro, a mulher não existe. A mulher é apagada do campo de visão dessas figuras. Tanto é assim que preferem discutir apoios masculinos que ela recebe, e não reconhecer a história, o legado e a potencialidade política que essa mulher ostenta aos olhos de todos.

A quarta característica é o “paixonismo” cego e acrítico por pessoas e partidos. Aqui, aqueles a quem se devota apoio podem fazer qualquer coisa que eles estão legitimados. O “paixonismo” aniquila a potência do pensamento crítico. Não há autocrítica, nem o avaliar para melhorar. É como se política fosse adesão incondicional e entrega total a pessoas e partidos, quando sabemos que política requer protagonismo em meio a programas e propostas de governo, a ideias e a conceitos.

Essas características que consagram o personalismo às avessas, a vulgarização da palavra, coronelismo machista e o patrimonialismo assistencialista, temperadas por grandes doses de “paixonismo” medíocre e violento, são, na verdade, a anti-política. E para sairmos disso, muito ainda temos que fazer. Tomara que os valores femininos, de mãos dadas com os valores masculinos, ajudem-nos a nos recolocarmos, politicamente falando, em um caminho mais saudável, republicano e cidadão.