Quintais de São Paulo

Romeu Prisco

A sede principal do PT localiza-se na cidade de São Paulo. Nela a sua Executiva Nacional reúne-se, periodicamente, ou sempre que for necessário, para exercer o comando partidário. Acima da Executiva Nacional está a Convenção Nacional, cujas deliberações e resoluções, adotadas em assembléias anuais, ou sempre que for necessário, são soberanas.

Uma das resoluções da Convenção Nacional dispõe caber à Executiva Nacional a indicação dos nomes dos candidatos do partido, para prefeitura de cidades com mais de 200.000 habitantes. Obediente a esta resolução, a Executiva Nacional indicou o nome do Senador Humberto Costa para disputar a prefeitura de Recife, o que desagradou vários setores pernambucanos, a partir do Governador do Estado, eleito pelo PSB e aliado do PT. Até aqui, nada de mais. Acontece que, num misto de inveja, algo que vem de longa data, e de malandragem política, tais setores passaram a atacar São Paulo, pelo simples fato de a Executiva Nacional do PT, reunida nesta cidade, ter feito aquela indicação.

Pra início de conversa, nem que a Executiva Nacional do PT fosse composta somente por paulistas, o que não é, justificar-se-iam os ataques pernambucanos a São Paulo. O mesmo se aplica, em maior escala, à Convenção Nacional do PT, sabidamente composta por representantes de todos os Estados brasileiros. Fingindo ignorância dessas composições, aproveitando o embalo para por à mostra seu lado invejoso e, claro é, pretendendo obter vantagens político-eleitorais, os setores pernambucanos discordantes do PT passaram a proclamar que “Recife não é quintal de São Paulo”, numa versão atualizada de outros motes e jargões semelhantes, usados no passado.

Pois bem, querem saber ? Vocês têm razão. Recife e o glorioso Estado de Pernambuco não são quintais de São Paulo, porque São Paulo, sim, é o quintal brasileiro. Um enorme e hospitaleiro quintal, cheio de oportunidades, que abriga migrantes de todos os cantos do Brasil, com destaque para os nordestinos, onde, certamente, se encontram incontáveis amigos, conhecidos, parentes próximos e distantes daqueles que ora agridem São Paulo.

Dá até para imaginar o ufanismo de eleitores pernambucanos, levados pela picaretagem da propaganda de certos políticos locais, desfilando pelas ruas de Recife, batendo no peito e dizendo “não somos quintal de São Paulo”. Alguns, mais exagerados e exaltados, nos comícios do candidato adversário do PT, gritando palavras de ordem do tipo “chega de São Paulo!”, “precisamos livrar-nos dos paulistas!”, “abaixo São Paulo!”...

Esse é o Brasil que não vai para frente e que, cada vez mais, necessita e depende de São Paulo. Obviamente, não devo ser o único a revoltar-se contra tais situações, mas, sempre que for o caso, vou usar do legítimo direito de defesa da orgulhosa condição de ser paulista, mesmo oferecendo novos pretextos aos detratores de São Paulo para novos ataques.