A “esquerda” chorona

Wilson Correia

O PT não quer apenas mudar a cor original das estrelas. Não deseja somente se apropriar da bela cor vermelha. Reivindica, para si, a reinauguração do Brasil, a qual teria acontecido em 2002, quando esse partido viabilizou-se perante os donos do mundo como os possíveis administradores do Estado brasileiro. Agora, em meio a rixas com a direita, ataca seguimentos sociais direitistas (entre os quais não me incluo) como se deles não fosse, também, um ilustre membro.

Mas essa perspectiva só será definitivamente consolidada quando a História do Brasil sob o PT for honestamente revisitada, recontada, reconstruída. A verdade é que o PT não se vê como o promotor das manifestações direitistas e ultraconservadoras que pululam em solo brasileiro. Porém, a bem da verdade, da qual se alimenta a história, é isso o que, de fato, ele é.

Até 2002, o PT informou o próprio discurso com as aspirações, bandeiras e sonhos dos estratos sociais brasileiros que sempre estiveram do lado mais fraco da relação entre dominantes e dominados. Sim, até aí, foi da pobreza que o PT extraiu os elementos conceituais necessários às reivindicações que empunhava, sobretudo as que diziam respeito à democratização do Estado, humanização da economia e transformação do modelo societário justificado pelo liberalismo e seus rearranjos históricos já por demais conhecidos.

De 2002 para cá, esse mesmo PT assumiu as cores que, antes, condenava. E não reinventou absolutamente nada, além de incursionar, despudoradamente, pelas trilhas do conservadorismo mais entreguista de que se tem notícia. E, nessa esteira, o que ele fez, e bem, foi emprestar aos donos do mundo as armas de dominação que havia adquirido junto ao povo para que o grande capital pudesse melhor subjugar a potencial cidadania. Ilustra-o a também famigerada “Carta ao povo brasileiro”, pela qual ele pula, em definitivo, para o colo neoliberal, então em processo de alastramento mundo afora.

E, nessa guinada à direita ultraconservadora, o PT aparelhou-se a si próprio e ao Estado mediante massiva repressão aos setores organizados da sociedade. E o fez mediante políticas assistencialistas de governo, e não republicanas, de Estado, indo robustecer ainda mais a cantilena do Estado mínimo para os reais produtores de riqueza, os trabalhadores, mas gigantesco para o capital e seus beneficiários. Não é sem motivo que até práticas viciadas de corrupção, exclusão e expurgo passassem a ser trivialidades no cotidiano político desse partido.

Só para ilustrar essa tese, basta ver os resultados que colhemos quando analisamos a realidade brasileira e a do Orçamento da União de 2011. Somos a sexta economia do mundo, mas encontramo-nos no octogésimo quarto lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); e somos quase campeões em injustiça social, dado que estamos na terceira colocação entre as piores distribuições de renda do planeta. Apenas duas outras nações ganham de nós nesse registro macabro relativo à desigualdade social.

Quanto ao Orçamento da União, só para ficar em alguns poucos indicadores referentes às necessidades do povo e aos direitos sociais, enquanto destinamos a quase metade de nossos recursos para custear uma dívida gerada no setor privado, mas assumida pelo Estado, em 2011 a educação contou com apenas 2,99% desses recursos; a saúde, com 4,07%; a ciência e a tecnologia, somente 0,32%; o saneamento básico, com 0,02%, a habitação, com 0,00%, uma vez que o Minha Casa, Minha vida é pago pelo cidadão e pela cidadã; a cultura, com os raquíticos e vexaminosos 0,04%.

A contragosto, tenho que dar razão a De Gaulle: “O Brasil não é um país sério”. Por isso, nesses eleições municipais de 2012, tirar o PT do poder foi um gesto simbólico e que, pedagogicamente falando, serviu para que esse partido reveja sua conduta perante o povo, sobretudo perante os mais pobres. E não adianta nenhum “chororô” e esperneio desses falsos esquerdistas. Se é que se aprende pela dor ou pelo amor, alguns resultados das eleições municipais parecem sinalizar qual foi, lá em 2002, a escolha feita pelo PT.