Supremo de Fran go

SUPREMO DE FRANGO

ou "os barracos do STF"

O “supremo de frango” é uma iguaria de origem francesa, tão ao gosto dos apreciadores da boa comida. Uma das receitas, respigada na Internet informa que os ingredientes básicos são peito de frango, milho verde, creme de leite, molho de tomate, uma caixinha de molho branco, mussarela a gosto. Leva-se tudo ao forno, cobrindo com batata palha. Eu detesto frango, mas é inegável que o “supremo” é um top da gastronomia. O verbete “supremo” aponta para isto e também para designar a mais alta corte do Judiciário brasileiro.

Em 1981, depois que o “supremo” confirmou a expulsão do país – pela ditadura – do padre italiano Vito Miracapillo (ele afirmara que não rezaria missa dia 7 de setembro, pois o Brasil não era independente), entrevistado sobre o fato, o padre Reginaldo Veloso, da periferia de Recife declarou que aquilo havia sido um “supremo coito venal”. Foi preso. 31 anos depois, Miracapillo voltou ao Brasil, naturaliza-se brasileiro e exerce atividades pastorais em Pernambuco.

Agora, nos idos de outubro a opinião pública e a sociedade brasileira contemplou aquilo que Leonardo Boff classificou de a espetacularização ideológica do Judiciário. A ideologia que perpassa os principais pronunciamentos dos ministros do STF parece eco da voz dos outros, da grande imprensa empresarial que nunca aceitou que Lula chegasse ao Planalto. Ouve-se no plenário ecos vindos da Casa Grande que gostaria de manter a senzala sempre submissa e silenciosa, diz Boff. O “mensalão” por atingir o PT tornou-o “bola da vez”. Os lascados e os sem voz, os frangos do açougue nacional, começaram a discutir política, opinar e sonhar com a reinvenção de um Brasil diferente.

Essa aparição demasiada do “supremo”, talvez seja para recuperar um pouco da imagem perdida com fatos obscuros recentes, como a história do médico Roger Abdelmassih, um ricaço que foi condenado em novembro de 2010 pela juíza Kenarik da 16.ª Vara Criminal de São Paulo, a 278 anos de prisão. Em 15 de dezembro de 2011 a Justiça de São Paulo negou habeas corpus a Roger que é acusado de estupro contra pelo menos 40 pacientes. O Ministério Público pediu 300 anos de prisão, mas, Roger está foragido desde janeiro de 2012, em face do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, haver determinado sua libertação através de um incrível habeas corpus.

Ele aguardava preso porque a Polícia Federal informou que ele tentava renovar seu passaporte. A juíza determinou que ele fosse preso para evitar sua fuga do país. Com uma desfaçatez sem precedentes, seu advogado recorreu. Disse que Abdelmassih não pretendia fugir do país, só estaria renovando o passaporte... Ele fugiu e hoje está no Líbano, pois tem dupla cidadania. É rico e vai ficar lá até que a morte o separe da boa vida. Cumprir a lei nem sempre é ser coerente com a justiça. Essa liberação do médico estuprador é muito estranha...

Há dias, em vídeo veiculado pelo You Tube, visível (e risível) pela Internet, o Ministro Joaquim Barbosa afirmou em plenário, diante das câmeras da tevê que o Ministro Gilmar Mendes está na midia, destruindo credibilidade do Judiciário brasileiro. Que barraco! Parecia uma rodada de frango frito, com farofa, comido na laje de um barraco de favela. Pela diatribe entre aquelas autoridades constata-se um deselegante racha ideológico e doutrinário entre seus membros.

O autor é Filósofo, Doutor, Teologia Moral e Escritor, autor de mais de 110 obras, publicadas no Brasil e Exterior, entre elas "A crise da ética", Ed. Vozes (3a. edição, 2002).