GILBERTO VIVE SEU PIOR MOMENTO DE VIDA POLÍTICA

Aos 61 anos de idade, 30 deles dedicados à vida pública, o prefeito Gilberto Naves (PMDB) conheceu o céu e o inferno da política. Conheceu também o purgatório. Venceu duas eleições para prefeito. Perdeu três. Foi eleito deputado estadual na única tentativa que fez, em 1998. Foi secretário de Estado por três ocasiões. É uma das maiores lideranças políticas do PMDB no Estado. Encarna em todas as dimensões a única alternativa ao grupo Lage, hegemônico na política e na economia de Goianésia.

A derrota nas urnas no dia 7 de outubro para Jalles Fontoura (PSDB) não foi uma simples derrota, curada com o tempo ou com aspirina. O sinal amarelo foi acesso em 2010, com a não reeleição de sua esposa, Mara Naves (PMDB) à Assembleia Legislativa. A vaga de deputado estadual era um sinal de credibilidade política, visibilidade e um catalisador de força. Desde 1994, quando Mara foi eleita pela primeira vez, o PMDB de Goianésia sempre teve cadeira cativa na Assembleia. Mara foi eleita três vezes (1994, 2002 e 2006) e Gilberto uma (1998).

Quando passar as chaves da prefeitura para Jalles, no dia 1º de janeiro de 2013 e descer as escadas da Prefeitura, Gilberto e o PMDB local estarão literalmente à margem do poder na cidade. À deriva no mar da política goiana. Exímio advogado criminalista e dono de uma inteligência privilegiada, Naves poderá ter muito sucesso na carreira de professor universitário, que almeja. Ou poderá reabrir seu escritório de advocacia e brilhar nos tribunais, como sempre fez. Pode se dedicar à literatura, como é seu sonho. Escrever e publicar livros. O caminho de Gilberto parece mais pavimentado nessas opções particulares do que um prolongamento da vida pública. Pelo menos neste momento de entressafra.

Em uma entrevista alguns dias após a derrota, Gilberto afirmou que a eleição de 2012 lhe imputou a maior carga de sofrimento pessoal. Referia-se tanto aos desdobramentos e arsenais da campanha quanto ao fatídico resultado. Em 1982, Gilberto concorreu pela primeira vez a um cargo público: disputou, sem estrutura, apoio e experiência a prefeitura contra Rubens Otoni, candidato apoiado pelo grupo Lage. Perdeu com diferença considerável de votos, mas fincou seu nome como alternativa sólida de opção. Nascia a oposição em Goianésia. Há seis anos, Jalles Fontoura havia sido eleito, como candidato único. Para Gilberto não foi necessariamente uma derrota, mas a apresentação de um cartão de visitas.

Em 1988, nova eleição. Enfrenta, já mais calejado, aquele que se tornaria seu grande rival na cidade: Helio de Sousa. Em uma campanha dura e equilibrada, sofre novo revés. Mas bateu na trave e já arrebanhou lideranças, fez vereadores e foi visto como um político de peso. Chorou a derrota, mas nutria esperança para o próximo pleito. Em 1992, veio a redenção: o PMDB era uma força política capaz de rivalizar com o grupo Lage. Bateu o médico Luciano Leão e imputou a primeira derrota ao ex-governador Otávio Lage na cidade. Foi saudado e reverenciado em todo o Estado pelo feito. Em 1996, na hora de passar o bastão, sofreu nova derrota. Como não havia reeleição, seu candidato, o engenheiro Giovani Machado foi derrotado pelo médico Helio de Sousa, que após quatro anos, voltava à Prefeitura. Perdeu com diferença mínima de votos e ficou com a eterna sensação de que poderia ter vencido, caso houvesse possibilidade de reeleição.

Dois anos antes, em 1994, Mara Naves conquista expressiva votação e se elege deputada estadual. Quando Gilberto deixou a Prefeitura, em 1996 tinha um cenário totalmente diferente de hoje: com o Governo do Estado como aliado e com Mara na Assembleia, continuou no poder. Saiu da Prefeitura para ser secretário de Estado do governador Maguito Vilela. A militância do PMDB na cidade teve um prêmio de consolação. Além disso, Gilberto geria as dezenas de cargos da máquina estadual na cidade. Fortaleceu-se tanto que, dois anos depois, foi eleito deputado estadual, batendo Jalles Fontoura. Venceu na comarca de Goianésia e venceu no Estado. Sacudiu a poeira e deu a volta por cima.

Quando cumpriu o mandato na Assembleia Legislativa, decidiu interromper a vida pública e voltar ao Direito. Mara perdeu duas eleições seguidas para a Prefeitura. Ambas para Otavinho Lage. Dois anos depois de cada derrota, foi eleita e reeleita deputada estadual. Não era o filé, mas abocanhava uma fatia nutritiva de poder. Em 2008, resolve de “desaposentar” e volta à cena política como candidato à sucessão de Otavinho. Como um predestinado, vence o neófito Ronaldo Peixoto e volta a freqüentar o olimpo da política de Goianésia.

Após quatro anos de gestão, de acertos e erros, Gilberto, não consegue a reeleição. Como anunciou a hecatombe das urnas seria seu último ato como protagonista de uma eleição, viu surgir uma legião de órfãos políticos. Após 30 anos de relação intensa com a política, Gilberto não alimenta mais nenhum grande sonho. Fica seguro, porém, com o legado que deixa para a história. Figura no panteão político da cidade como um dos grandes. São contribuições administrativas e políticas relevantes. Mais importante que obras físicas que o tempo macula, construiu uma alternativa de poder. Conseguiu erguer um grupo forte, competitivo e respeitado. Mesmo quando perde, vende caro a derrota. A diferença é pequena, sofrida, comemorada.

Gilberto tem consciência que sua missão política a partir de agora é ser o grande articulador da oposição. Apostar em novos valores, oxigenar o partido, debater com a sociedade outros modelos e, deixar que o tempo se encarregue do resto. Se o PMDB voltar ao Governo do Estado em 2014, Gilberto agrega poderes e fica fortalecido. Se Marconi Perillo se reeleger, o cenário do PMDB de Goianésia ganhará contornos mais dramáticos. Mas essa é uma discussão que ainda leva tempo e muitos enredos e personagens podem e devem entrar no meio. O que resta a Gilberto Naves é a reflexão e viver novas sensações em sua vida. Ouvir Raul Seixas, ler literatura inglesa, escrever poesia, lecionar Direito Penal, acompanhar os filhos e a esposa. Se dedicar à pacata vida do campo. Freqüentar círculos acadêmicos de Goiânia. Ser um cidadão comum, à paisana. O tempo filtrará nos novos caminhos.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 31/10/2012
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