DIÁFANO COMO GOTAS DE CRISTAL
                                                     Sérgio Martins Pandolfo*
     
      Nesta parte final do julgamento aberto, transparente, ao vivo da Ação Penal 470, conhecida vulgarmente como “mensalão do PT” têm chamado a atenção, principalmente, alguns aspectos realmente inusitados ou, se preferirem, “nunca antes vistos na história ‘desse’ País”, tais: 1- a incrível, quase avassaladora capacidade do ministro Joaquim Barbosa, elevado hoje à condição de ídolo nacional, impor sua voz e suas razões – ou interpretações – sobre os demais membros que compõem o pleno do Supremo Tribunal Federal, até porque arrimadas em fundamentações quase irretorquíveis e, portanto, inderrubáveis; 2- a contraposição sistemática do ministro revisor Ricardo Lewandowski às sentenças opinativas de Joaquim Barbosa, de forma a bem dizer frágil, mofina, insustentável, mais por deliberadas tentativas de obstrução, como, aliás, salientou o relator, se não elisão, dos robustos argumentos de Barbosa, razão por que muitos operadores do Direito têm referido – inclusive o próprio ministro JB - ter ele se comportado mais como advogado dos réus que como magistrado revisor.
     Correm soltas na internet críticas, veementes umas, jocosas outras, sobre essa estranha, para dizer o menos, magnanimidade de Lewandowski no que tange à apenação dos réus, chegando mesmo a absolver, somente ele, dois dos apontados como “cabeças mentoras e efetoras” do malfadado mensalão, o que redundou em penas relativamente pequenas, se cotejadas com outras aplicadas, como por exemplo, à do alimentador do duto recursal (valerioduto), de onde jorravam, em lauto caudal, os reais que iam ter às cuecas, meias, sacos plásticos e caixas de biscoito (nunca em contas bancárias) e disfarçadamente recebidos por companheiras, secretárias ou parentes não muito próximos dos destinatários listados por um dos “cabeças”, que ávida e furtivamente os aguardavam para o saldamento de “dívidas de campanha”; 3- a firmeza habilmente conduzida, a sagacidade, a serenidade imperturbável, mesmo nas ocasiões de maior tensão - os embates vocais de suas excelências Barbosa versus Lewandowski -, que quase sempre amainavam com a intervenção saneadora do presidente e via de regra culminavam com a prevalência dos inobjetáveis arrazoados do relator, a seguir secundados ou ratificados pelos demais membros da excelsa corte, todos eles de notório saber e independência de pensar. Pena que o ministro presidente Ayres Brito será compulsoriamente aposentado no próximo dia 18 por atingir a idade limite (70 anos).
     Outro fato que apontamos com indisfarçável surpresa é o da mudança de comportamento do até então discreto, contido e um dos veteranos da casa Marco Aurélio Mello, que sistematicamente tem feito comentários ou expendido conceituações opinativas próprias nos “cafezinhos” intervalares para a imprensa ávida, voraz, fisgante e repassadora instantânea das declarações do ilustre magistrado para os jornalões, fugindo, destarte, do pétreo aforismo dos tribunais de que “juiz só se manifesta nos autos”, em altos sons, muita vez, como se fez ver na TV.
     Fato é que não fora a irrefutabilidade da argumentação de Joaquim Barbosa, haurida ao longo dos sete anos de funda investigação e a robustez das provas dos ilícitos cometidos pelos réus, a escorreita postura do presidente Ayres Britto na condução das sessões estaríamos ainda nas instâncias preambulares do julgamento ou, o que seria, sem ponta de dúvida, mais dolorido e frustrante, restaria a ação concluída com a absolvição de todos, pessoas de bem e competentes gestores de nosso “rico dinheirinho”, quiçá até fazendo jus a indenizações generosas, como se tem visto a basto, pelo muito de benfeituras e bons serviços prestados ao ingrato “patropi”.
     Por fim, uma curiosidade nos assaltou: Joaquim Barbosa sarou da coluna ou terá que apelar para as forças mediúnicas do Dr. Fritz?

Na foto acima membros do STF, os guardiães da moralidade, da  decência, da democracia, da Carta Magna.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 16/11/2012
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