Guerra Midiática

A vida é luta, sempre. Talvez seja por isso que a gente chora quando nasce ao ver a luz do dia (ou da concessionária) pela primeira vez.

Estamos sujeitos hoje em dia a uma guerra talvez muito mais densa que a guerra convencional. Trata-se da guerra midiática. Que nos põe em contato com coisas que não existem ou que não podemos conhecer, por não serem do interesse dos poderosos, a quem grande parte da imprensa internacional tem que se submeter ou escolhe. Muitos profissionais da imprensa preferem produzir suas matérias sem estar próximos das ocorrências que as motivaram. Com chances, portanto, de acabarem baseando-se em fatos que não correspondam à realidade. Além disso, se estivermos tratando do que caracteriza a vida – a luta –, na forma de guerras, rebeliões, revoluções, reivindicações populares, etc., o compromisso maior deveria ser com os que estão sendo agredidos, e não com os agressores.

No caso da Líbia, de Khadafi, por exemplo, toda a agressão das potências da OTAN, sob o comando ou influência dos EUA, teve a sua justificativa a partir do que se disse ou foi mostrado pela imprensa. E o líder líbio, para alguns apenas um ditador, acabou sendo esquartejado no meio da rua. Há relatos de correspondentes isentos ou não comprometidos com a imprensa manipulada, que não apareceram em nossas TV’s aqui no Rio, por exemplo: pessoas retirando cadáveres de amigos, parentes ou outros civis de certo prédio bombardeado enquanto as imagens oferecidas ao Ocidente eram as do prédio bombardeado em frente, onde não havia cadáveres a serem retirados.

É possível que fatos desse tipo, solapados à opinião pública ocidental ou mundial, suscitassem uma solidariedade ou movimento pacifista internacionais. Que obviamente não houve. Porque o objetivo era que ficássemos convencidos de que Khadafi era um sanguinário ditador e inimigo do povo a ele submetido.

Torna-se necessário, portanto, que estejamos atentos a essa guerra da contrainformação ou antenados com contracorrentes que, com o oferecimento de informações isentas e fidedignas, nos possam permitir separar o joio do trigo. Já que não podemos esperar que a mídia brasileira (como Isto É e Veja), em grande parte atrelada ao mandonismo ocidental, nos possa contar a verdade.

Tal é o caso, por exemplo também, de Hugo Chávez. Apresentado a nós, muitas vezes por um conhecido cineasta, hoje com certo destaque na mídia carioca, como um bravateiro, leão de chácara de bordéis de segunda categoria ou nacionalista ultrapassado. Como se o nacionalismo, sob o ponto de vista da soberania territorial da pátria e a defesa de seus interesses, exatamente o que praticam as poderosas nações do Ocidente, fosse algo espúrio ou que não devesse ser cultivado. Mas não se diz que Chávez é um leitor compulsivo, um homem que recomenda livros à população e que foi eleito pelo menos por três vezes, em pleitos livres e democráticos, num país onde o voto é facultativo. Como não se diz também que o salário-mínimo na Venezuela é cerca de R$ 2.400,00, enquanto que na Argentina beira os R$ 1.400,00 e no Brasil tem-se como projeção para 2013 o valor de R$ 670,95.

São exemplos desse tipo que atestam a desconstrução do jornalismo. O que, no que possa se referir ao Brasil, está na contramão da integração da América Latina. A entrada da Venezuela de Chávez no Mercosul, ao contrário do que pensam muitos deformadores de opinião, pode significar o estabelecimento de parcerias que redundem no favorecimento da integração da América Latina. Através de políticas de inclusão social, de fortalecimento da soberania territorial e de independência frente a poderes externos, combinadas com programas de incentivo à economia agrícola, à industrialização e de programas visando uma distribuição de renda mais eficaz.

Temos conhecimento de que não é sólida a atual situação econômica de muitos países europeus. Mas é possível que em nossa mídia não encontremos comentários enfáticos em relação ao verdadeiro desastre que o neoliberalismo provocou na Europa. A Grécia, por exemplo, amarga uma grave crise econômica, provocada pela alta dívida pública. O aumento do desemprego e a falta de credibilidade no mercado internacional determinou a “redução de gastos públicos, relacionados, principalmente, a direitos trabalhistas”.

Criatividade para ganhar dinheiro é com que se conta atualmente na Espanha. Um turista relata que ao “descer do táxi no aeroporto de Barajas, em Madri, sofri uma espécie de ‘assédio’ de vários homens que ofereciam ajuda para carregar minhas malas”. E informa ainda que no “Parque do Retiro, também em Madri, várias pessoas circulavam com sacolas cheias de cerveja, refrigerantes e água nas áreas onde muitos costumam deitar na grama para relaxar”. O que não é novidade por aqui. É só ir à praia num dia de forte calor ou à entrada de uma casa de espetáculos no dia da apresentação de uma atração internacional. Novidade é na Europa, onde as pessoas não se valiam de tais procedimentos para fazer face à “aceleração dos índices de desemprego”.

A Itália, “cujo PIB caiu 0,8% no primeiro semestre de 2012 em relação aos últimos três meses de 2011, chegou a pagar em novembro de 2011 juros recorde de 7,5% ao ano para refinanciar sua dívida de longo prazo”.

Isso só para citar três países europeus que devem estar apostando na redução de salários, agredindo direitos laborais, para a contenção de gastos públicos visando o equilíbrio da economia. O que não acontece na Venezuela, onde as leis laborais no momento são mais evoluídas. Mas isso não se explica ao público brasileiro, pelo fato de o nosso jornalismo, em grande parte, não estar comprometido com a verdade.

Monta-se, portanto, não só em relação a Chávez, como se montou também em relação a Khadafi, a Saddam Hussein e outros, um teatro falso, através dessa mídia que, a nível internacional, insiste em convencer o público de que tais lideranças são uma ameaça ao mundo livre e democrático. Quando, a despeito de todos os seus erros e imperfeições, pode suceder exatamente o contrário. Dessa mídia que promove verdadeira lavagem cerebral contra lideranças que tenham algo de nacionalista. Fazendo-nos crer como correta a atribuição da conotação pejorativa ao termo nacionalista. Mas isso também não é novidade, para nós que aprendemos a acreditar que “os comunistas comiam criancinhas”, na acepção antropofágica do termo. E disso muitos do que integraram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade devem ter se arrependido, sobretudo aqueles que tiveram seus filhos torturados pela ditadura terrorista que suportamos durante vinte anos.

Importa, então, que fiquemos de olhos bem abertos. Sempre à procura do contraditório. Porque a ideia é a de, através de um falso jornalismo, impedir que o povo brasileiro seja bem informado. E essa boa informação, no contexto da importância do Brasil no continente sul-americano, através de novas lideranças, forjadas no seio das exigências populares esclarecidas, pode favorecer a integração de toda a América Latina. Possibilitando parcerias que promovam entre os latino-americanos a inclusão social; o desenvolvimento sustentável, com o respeito à ecologia; o fortalecimento da soberania territorial; a industrialização; uma verdadeira reforma agrária; a solução dos eternos problemas de saúde, alimentação, educação e transporte; etc.

Tudo o que não é do interesse das grandes potências do Ocidente, interessadas na divisão dos países latino-americanos para que se configure o impedimento de uma América Latina “Unida, Forte, Independente e Justa”.

Rio, 19/12/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 19/12/2012
Reeditado em 20/12/2012
Código do texto: T4043161
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