Felisburgo: Ano Novo, mas tempos antigos

Por: Leonardo Koury Martins

Outro dia, uma amiga jornalista de uma rádio conhecida em Belo Horizonte me perguntou qual era meu ponto de vista sobre o Massacre ocorrido na cidade de Felisburgo. Para responder resolvi contextualizar o genocídio comandado pelo latifundiário Adriano Chafik, réu confesso, com parte da história do Brasil.

Sem pretensão de ser academicamente correto, comecei dizendo sobre as capitanias hereditárias que começavam no litoral brasileiro e seu fim iria até onde seus donatários conseguissem cercar. Muito parecido com os donatários da Coroa Portuguesa, chegamos a pleno século 21 com o mesmo personagem com outra nomenclatura; latifundiários.

Em diferentes roupagens, mas herdeiros de uma mesma história, os latifundiários ou donatários têm como mesmo propósito tomar conta de suas terras, eliminarem perigos que ameacem a sua ordem e privar dos recursos ali extraídos.

Passam os tempos, mudam as leis, porem este antigo personagem da história do Brasil continua intacto em um país que defende as grandes propriedades (muitas vezes improdutivas) e a acumulação do capital.

Adriano Chafik, como bom donatário ou latifundiário, acreditando que estava sobre a ameaça de suas poses utilizou o meio mais antigo de domínio para defender o que acredita ser seu. Nessa história contata pelos homens brancos portugueses e ainda presente nos livros escolares brasileiros outros personagens, os jagunços ou pistoleiros, são homens trabalhadores que tem como função defender o que não é seu. No caso do Massacre de Felisburgo foram 17 jagunços armados.

Em 2004, mais precisamente no dia 20 de novembro, somos surpreendidos pelo massacre que levou a morte de 5 trabalhadores sem terra e 12 feridos, além de atear fogo em todo acampamento. Massacre para responder a ocupação de mais de 500 hectares de terras devolutas, este donatário ou latifundiário, tomou-se como teu igual aos velhos tempos estas terras públicas, nada diferente das capitanias. As famílias dos mortos e feridos apenas até o dia 17 de janeiro a certeza da impunidade, desde que os menos não foram assistidos pelo estado brasileiro, diferente de Adriano Chafik que está solto por apresentar residência fixa e também por não apresentar perigo à sociedade. Risos, claro.

Contudo, por acreditar que a história pode ser diferente, os movimentos sociais em Minas Gerais esperam militantes do Brasil inteiro, não para escrever uma nova história que deixei para trás o coronelismo em nosso país, longe disso. Esperamos ao menos que Adriano Chafik seja devidamente condenado pelo júri popular, pois a justiça neste país pouco ainda pode dizer que enxerga mal nos escondidos óculos escuros.

Leonardo Koury Martins: Escritor, Assistente Social e Militante dos Movimentos Sociais