Abaixo a Seleção

Não devemos ter medo de errar. Pois personalidades de importância universal, que aprendemos a admirar, também cometem muitos erros em suas avaliações. Em que pese a impressão de que deveriam ser infalíveis. O que devemos temer é a nossa provável incapacidade, se for o caso, de reconhecer os nossos erros. Sobretudo quando achamos que estamos com a bola cheia.

Os mexicanos, apesar da sua fascinante civilização asteca, eram “considerados pelos viajantes uma raça de homens imbecis, pusilânimes e incapazes de se responsabilizar pelos destinos da bela Califórnia”, que lhes pertencia. E houve quem se manifestasse favoravelmente à idéia de que os Anglo-Saxões, “nas suas fantasias racistas do século 19”, deveriam ter o direito de ser os verdadeiros donos daquela terra. Como depois se tornaram.

Dentre esses, destacou-se Charles Darwin, o maior dos próceres da teoria da evolução, para quem “há muito de verdadeiro na crença de que o notável progresso dos EUA, assim como o caráter de seu povo, devem ser interpretados como o resultado de uma seleção natural”.

Ou seja, como os mexicanos eram incapazes de garantir o desenvolvimento da terra que lhes pertencia, foi justo que os americanos, descendentes dos Anglo-Saxões, se apropriassem dela e dotassem a região do enorme progresso que hoje lá se verifica, por não serem imbecis ou incapazes.

Agora, acreditar que isso tudo tenha a ver com o caráter de um povo ou achar que é justo você se apropriar de alguma coisa que não lhe pertence por você ser mais capaz daquele que a detém, não seria também uma imbecilidade? Ou será que tudo, em todos os casos, é uma questão de seleção natural?

Não foi, de certo modo, o que fez Hitler? Que, na sua alucinação pela raça pura, chegou a ponto de propor, ao que parece, que todos os deficientes físicos fossem exterminados? Também um tipo de seleção, ainda que artificial. Não sei a extensão da proposta insana, mas, na hipótese absurda da sua vigência no mundo todo, como ficaríamos sem Ray Charles, Jose Feliciano, Steve Wonder e todos os loucos e exímios artistas da Drª Nise da Silveira?

Entretanto, o velho terror dos judeus, de quem nunca nos esquecemos, até pela freqüência com que ocorrem as comemorações do Holocausto, queiramos ou não, é também uma personalidade universal.

Será que nada há em comum entre o que defendeu Darwin e as colonizações espanhola e portuguesa? Repare que os invasores europeus podem ter achado que os índios não tinham condição de controlar, defender e propiciar o desenvolvimento das férteis, ricas e paradisíacas terras que ocupavam apenas com arco, flecha, tacape e uma religião para a qual eram desconhecidas as figuras de Deus e Jesus Cristo.

Rio, 31/01/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 01/02/2013
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