O BRASIL NÃO EXISTE

Romeu Prisco

Não é assim que se diz de alguém, quando pratica um ato inusitado e anormal ? Você não existe ! Pois bem, no caso do Brasil, a diferença está no fato de os atos anormais praticados não serem mais inusitados. São rotineiros.

O Brasil, que tanto lutou para ver-se livre das pragas Sarney, Maluf, Collor e Renan, agora está na maior amizade íntima com tais pragas, trazidas de volta ao cenário político, pelas mãos de quem tentou eliminá-las. Seria como ver Deus e o Diabo andando de braços dados, rindo dos trouxas ! Trata-se de um descomunal caradurismo de Deus e do Diabo. Por isso, o Brasil não existe.

O principal alimento da corrupção são as grandes obras publicas, muitas delas chamadas de faraônicas. Sem elas, a corrupção não sobrevive. Tais obras começam a um custo de "x" e terminam, quando terminam, a um custo de "x + x", ou seja, no mínimo, o dobro. Ao serem inauguradas, se são hospitas, faltam médicos e remédios. Se são escolas, faltam professores e bibliotecas. Se são presídios, faltam presos, soltos diariamente pela justiça. Melhor exemplo não poderia haver do que a recente reabertura do estádio de futebol Mineirão, depois de reformado a um custo de 700 milhões. Não havia água nos bebedouros e nos sanitários. As lanchonetes estavam fechadas. Por isso, o Brasil não existe.

A tragédia de Santa Maria gerou uma enorme onda de demagogia por todo o país. Casas noturnas de espetáculos e boates passaram a ser "rigorosamente" vistoriadas. Centenas delas encontravam-se em situação irregular e foram interditadas. O que isto significa ? Significa, simplesmente, que, até então, a fiscalização não se fez presente e, se esteve, comeu bola, o que é mais provável. Por isso, o Brasil não existe.

Quando eu era mocinho, e isto já faz algum tempo, com o cinema no auge, costumava freqüentar dois deles, próximos da minha casa. Ambos de porte médio. Um, na época de carnaval, removia as poltronas da platéia e realizava os tradicionais bailes do reinado de Momo. Além da ampla entrada e saída de frente, aqueles cinemas possuíam escapes de emergência laterais e nos fundos. Surpreende-me e espanta-me que, meio século depois, admita-se a existência de uma casa noturna, com capacidade para mais de 500 pessoas, não possuir sequer uma saída de emergência, como a boate "Kiss". Se for permissão da legislação, então, deu-se uma tremenda involução ! Por isso, o Brasil não existe.

Ou será que existe ?!

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O autor foi colunista do informativo "Direto da Redação", editado pelo jornalista Eliakim Araujo.

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