Trocando seis por meia dúzia

Anteontem o senado aprovou o projeto de lei em que extingue o 14º e 15º salário dos parlamentares no país. Pra quem não tem conhecimento, os senadores e deputados ganham 26,7 mil mensalmente, além de alguns benefícios. Se compararmos ao salário mínimo do cidadão brasileiro, dá uma “pequena” diferença de, “somente”, R$ 26.022,00. Considerável, não? Mais uma vez, ponto para o poder público. Essa aprovação foi anunciada ontem pela vice-presidente do senado Marta Suplicy.

Já pararam pra pensar que no fim do ano eles embolsavam nada mais nada menos que R$ 80.100,00 (somando o 13º, 14º e 15º salários)? – Dá-lhe presentes de Natal, viagens, regalias e festas de ano novo –. Ah! Lembrando que além desse valor, existem, ainda, algumas verdinhas desviadas dos departamentos públicos, sonegação de impostos e todas àquelas improbidades que sempre ouvimos por aí. O que será que fazem com tanto dinheiro? Quem entra nesse meio, realmente, ganha na loteria!

Existe apenas um probleminha para a execução desse projeto; ele já foi aprovado, todavia precisa ser apreciado pelo plenário do senado e depois pela câmara para então voltar e ser realmente promulgado, caso passe por todo esse “povo”, aí sim podemos dizer que no fim do ano 80 mil a menos irão pro bolso dos parlamentares, senão, voltamos à estaca zero e eles continuam ganhando. Votar no próprio salário – chega ser irônico –, e há quem ainda afirme que o Brasil é um país democrático.

E se esses 53.400,00 (14º e 15º) de cada parlamentar fossem somados e investidos em cestas básicas, cobertores ou qualquer coisa pra ajudar os moradores de rua, instituições filantrópicas...? Pra conhecimento geral são 513 deputados federais e 81 senadores, ou seja, 594 pessoas compõem as cadeiras parlamentares. Agora multiplicamos os 53 mil pelo número total de envolvidos e então teremos um valor de exatamente R$ 31.719.600,00 (trinta e um milhões, setecentos e dezenove mil e seiscentos reais – difícil até de ler). Valor um tanto quanto “razoável” pra quem quer ajudar, não acha? Ah! Relembrando, caro leitor, que esse saldo sai do nosso bolso, trabalhadores que pagam impostos.

São acontecimentos como esses que revoltam qualquer brasileiro. Está certo que para chegar ao nível parlamentar é necessário subir degrau por degrau, há todo um procedimento a ser cumprido e tudo mais – claro que com exceções (Tiririca)–, porém é muita “sacanagem” (com perdão da palavra), pensar que enquanto os políticos estão ganhando essa quantia pra viajarem o mundo todo e discutir algumas leis, nós estamos trabalhando diariamente, minuto a minuto, segundo a segundo para no fim do mês olhar na conta e ter 2,53% equivalente ao salário deles. Enfim, espero que depois dessa lei promulgada, nós possamos dizer que esse dinheiro que, agora, irá “sobrar” esteja sendo investido em algo que realmente valha a pena e que não passem a ‘roubar’ esses salários todo fim de ano, senão estaríamos/estaremos trocando seis por meia dúzia.

Artigo originalmente publicado no jornal impresso e online Folha Extra/ Wenceslau Braz-PR