Mais uma vez o amor

Mais uma vez o amor








Tudo é amor, mesmo o que não aparenta ser, mesmo a mais pérfida, torpe ação, é um desejo de exibir o cartaz de: “olhe, estou aqui, estou sofrendo, e preciso chamar a sua atenção”.

Os 65.000 manifestantes de 17 de junho em São Paulo estavam expressando isso: amor. Pelo país, pela cidade e sobretudo pelos outros milhares e milhares de possíveis manifestantes, cuja situação, seja econômica, social, seja pela faixa de compreensão da vida neste momento, não puderam ou optaram por não se manifestar.

O aumento de vinte centavos da passagem, ficou claro, é só a ponta do iceberg de uma assombrosa insatisfação pela falta de amor dos governantes para com a população.

Passagem cara, (item um), a condução em si, (item dois), no que tange aos ônibus, mostra-se de uma precariedade que só não é risível porque seres humanos ali se apinham na busca pela sobrevivência. Já disse um instruído falecido que só no Brasil colocam assentos num chassi de caminhão e chamam de “ônibus”. E mesmo esses “tri articulados” do momento tem uma pegadinha que você só percebe ao entrar – são grandes, porém carentes de assentos. Face ao tamanho do veículo a primeira coisa que você pensa é: oh oh, há algo errado. Mas quem fabrica ta com a grana no bolso, disso eu não duvido.

Saiba, incauto(a), ninguém pode ser feliz à custa de outrem.

Na quinta 13 de junho, salvo engano (dia de Santo Antonio, aliás), houve uma baderna pelo fim da Copa 2014. Pombas, isso é uma presepada sem tamanho. Veja, se estivéssemos em 2010 e essa questão fosse levantada eu assinava embaixo. Por hora estamos carecas de saber que a FIFA pediu 8 estádios, nós demos 12, afinal, “a taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa”, e creio mesmo ter sido uma tremenda irresponsabilidade do Poder Público esse mundaréu de construções em detrimento do dueto básico – educação e saúde, mas agora, uma manifestação contra a Copa me parece contraproducente. Que se faça uma manifestação pela prestação de contas, isso seria legal e positivo. Todavia, a Copa está aí, povos de outros mundos virão, acolhê-los com dignidade me soa como uma obrigação, pura e simples.

Ninguém liga pra você, baderneiro, talvez você esteja mais agoniado, mais doente que os demais, daí você se junta aos demais e quebra, depreda, apanha, outros apanham por sua causa, mas o grito latente em decorrência do vazio latente é mais visível que o espaço em branco de um outdoor e neste espaço está escrito “preencha esta espaço”.

Os depoimentos – áudio, vídeo, textos, músicas, expostos na invenção do mister Mark Zuckerberg (vide Facebook) são imbatíveis, uma bela demonstração de livre expressão e muito mais próxima da realidade do que o exibido pela TV.

Os heróis da Grande Mídia Nacional, há não muito tempo, falaram sobre o envolvimento de senadores com o trabalho escravo. Bom, isso está além de vergonhoso, quem sabe ano que vem a turma vá para as ruas pedindo a revisão de salário dos políticos e a eterna impunidade que os envolve. Quando se começa a fazer contas, e, pensando melhor, estão fazendo contas faz tempo somente agora começam a falar mais e mais abertamente sobre o assunto, enfim, aquele rapaz que não tem tempo para ir a passeata deduzirá com maior clareza que ele ganha 800 contos por mês para trabalhar não raro 24x7, ao passo que o lindão do palácio, seja qual palácio for, põe 20 mil no bolso, pra mais, por mês, trabalha dois dias da semana e ao invés de ajudar, ou bem se omite ou ainda contribui para piorar a situação.

Senhor Sai Baba, antes de desencarnar, avisou que a mecânica planetária de desenvolvimento espiritual no presente equivale ao trâmite de trocar uma lâmpada de 40 watts de um cômodo por uma lâmpada de 100 watts. Uau, as pessoas vão enxergar mais. E com isso abrir a mente e raciocinar com clareza de espírito.

Agora mesmo vigora um movimento sobre o “Um Trilhão de US Dólar” sonegado pelo Big Business, dinheiro esse que sanaria os problemas materiais básicos do globo. Assim, temos patamares e patamares de vislumbres e manifestações. É meio problemático quando elas começam a ocorrer ao mesmo tempo. Algumas mais imprescindíveis que as outras, por exemplo, o povo sírio está pagando um preço altíssimo pela sua liberdade. Deus nos livre desta sina.

Tem um slogan rolando por aí: A Cidade Muda não Muda. Show, concordo sem pestanejar, embora confesse me sentir profundamente incomodado com a balbúrdia, pra mim foi-se o tempo de bater perna com cartaz na mão cantando refrões, entretanto, se a passagem baixa eu me beneficio, mas como já se disse, há agora uma imensa vibe se sintonizando com benefícios decorrentes e aí todo mundo se beneficia.

O amor é inclusivo – ele não coaduna com medo e separação. Ele abrange.

Semana retrasada, creio eu, houve uma passeata na Zona Sul, lá pela região de Interlagos, contra a violência. Os que estavam ali, pais, mães, filhos, idosos, irmãs, etc., são os que perderam um ente querido nessa barbárie que estamos vivendo. Parece que reuniu 5.000 pessoas, não tenho certeza. Domingo retrasado 500 pessoas se reuniram pela paz. Com esses dados, com essa espantosa realidade amedrontadora, ainda vem um estúpido televisivo fazer piadinha, porra meu, dá um taime, usa esse seu espaço, essa sua pseudo influência pra falar alguma coisa que presta, no mínimo em respeito a essas vítimas, porque ontem foram eles, amanhã pode ser você ou eu.

Será que a dona de casa, o trabalhador, o artista, o empresário, o intelectual, etc., será que cada um deles ainda não percebeu que o Pacto Civilizatório em Sampa, senão no Brasil, está ameaçado?

Não há amor na barbárie. Noutras palavras, baderna e caos não acrescentam absolutamente bulhufas ao processo.

Nesse momento tem muita gente matutando, e isso em virtude deste trampolim para o Pensamento Maior que consiste no movimento para baixar a tarifa, ou o próprio Passe Livre, enfim, muita gente vendo isso como o início para uma ampliação do debate sobre a cidadania. Ufa, quem sabe. Já posso ver alguns tópicos desse debate: Petrobrás, Belo Monte, índios, devastação na Amazônia, assassinato de preservacionistas, Previdência, Educação, e isso não acaba mais.

O Brasil não pertence a um partido, seja ele qual for. A tarefa de tornar um Brasil melhor não é propriedade de um político, seja ele quem for. Espero que essa dinâmica de contestação em prol da coletividade que ocorre agora em São Paulo sirva ao propósito de um aprimoramento do nosso futuro, um dia de cada vez, e com diálogo.

O governo deveria ser um lugar onde as pessoas trabalham juntas. Um estado de espírito que não deixa ninguém para trás. E acima de tudo, um instrumento do bem.

E o bem, como sabemos, é amor.





ps (texto redigido e publicado dia 18.06, em torno das 12 h, a partir da observação e concernente ao período de 06.06 a 17.06).


* * *


Intenções –(relato de um observador sobre o período de 18 a 26 de junho sobre os eventos em prol de mudanças).




Comunique ao universo suas intenções, por 17 segundos, e ele responderá.


A presidente Dilma falou por 10 minutos e sua intenção, segundo a leitura dos meus dois neurônios, é a de que ela não quer o caos. Eu também não. E, ainda na contabilidade dos meus neurônios, estamos a dois minutos de ter o exército nas ruas e encerrar o processo democrático. Também não quero isso (estou manifestando minha intenção por escrito).

Desnecessário ser um gênio para equacionar (sempre volto com essa mesma expressão, porque apesar de batida me parece cabível): quebrar a janela da prefeitura é uma coisa, fechar rodovia federal é outra coisa.

Quer dizer, devagar com o andor.

“Maioria silenciosa do Brasil parece ter encontrado voz" – The New York Times. Os gringos continuam muito eficientes com seu poder de síntese, já que, a meu ver, essa baderna irrefreável, a despeito das incontáveis teorias da conspiração exaladas até agora e que chegaram aos meus ouvidos, talvez seja isso mesmo, um desabafo desmedido.

Meus neurônios são ingênuos e adoram citações:

“Dogmas do passado quieto são inadequados ao presente tempestuoso”.

Cá entre nós, essa cai como uma luva.

Estivemos calados durante muito tempo, e a turma sapateando em cima de nós com bandalheiras mil. De qualquer forma, do jeito que estava não dava mais. Agora, me parece que arrebentou um dique. Muita calma nessa hora pois isso pode custar caro demais. Pode custar o nosso abençoado Brasil.

Vejamos alguns pontos de vista formulados pouco antes do pronunciamento de 21.06 da presidente Dilma:

a. O slogan “O gigante acordou”, de acordo com estudiosos, foi usado na Alemanha pré nazismo total.

b. Manifestações que banem bandeiras de partidos mostram-se, ainda de acordo com estudiosos, sintomas idênticos ao do movimento fascista pré Mussolini.

c. Pessoas tipo “Z” infiltram-se no meio da “boa vontade que se manifesta”, desde Facebook até a rua propriamente dita, no intento de quebrar a boa intenção. O que há de testemunhos sobre isso não é brincadeira.

Dez minutos após a manifestação presidencial, uma amiga minha, a sra. A.C.C.S., 50 anos, publicou no Face sua grata satisfação. Foi espinafrada por todos os lados, de amigos a desconhecidos. Ela pensou: uai, e a liberdade de expressão? Quatro horas depois, tirou do ar.

Em 22 de junho, sabadão friorento na capital paulista, durante um reservado evento onde os participantes decidiram criar o Clube do Suspensório, apenas para pessoas que usam suspensórios, e, diante do pasmo geral face ao ocorrido com a sra. A.C.C.S., foi solicitado à mesma que re-publicasse sua opinião do dia anterior.

Com receio, ela não o fez.

Nesse mesmo dia houve manifestação em Sampa (PEC 37) e um vídeo foi postado no YouTube, até então com 807.000 acessos, exibindo os furos do proclame do planalto. Pelo Brasil a fora ocorreram mais expressões de múltipla ordem, algumas com desordem.

A presidente fez um novo discurso em 24.06, e neste ela promete 50% do Pré-Sal para Educação. No primeiro discurso ela prometeu 100%. Especialistas dizem que na verdade esse dinheiro não existe. Não especialistas, como eu, ficam incomodados com a abruta e incoerente mudança dos percentuais: sexta feira, 21/06, eram 100%, segunda feira, 24/06 – 50%. Espera-se que a grande mídia esclareça o fato, assim o mesmo não fica ao sabor da interpretação de um mané de internet (me). Acontece que agora passamos para outro fator, sobre um fato recente da grande mídia.

Assim expressa a sra. Fulana de Tal, num texto muito bem articulado, publicado na web, creio eu, em 20 de junho. Omito o nome dela por duas razões muito simples: a primeira, em respeito. A segunda, em se tratando de web e na quantidade de fantasmas que aqui habitam fica impossível estabelecer a sua existência de fato. Segue a curiosidade sobre a grande mídia, nas palavras dela:

“No dia 13, então, aconteceu a primeira coisa estranha: os editoriais da folha e do estadão aprovavam o que a PM tinha feito no dia 10 de junho e, mais do que isso, incentivavam ações violentas da PM “em nome do trânsito” .

Dados para se pensar e mesmo misturando nesse ponto alhos com bugalhos, tenho um aparte nessa questão do trânsito e me parece improvável que ninguém tenha pensado nisso ainda, mas enfim... A reta (é quase uma reta) subdividida em seções, a saber: Domingos de Morais, Bernardino de Campos, Paulista e dr. Arnaldo é considerada o maior “Corredor da Saúde” da América do Sul, isso devido a grande concentração de hospitais em cada uma das seções da reta. Ora, eu me pergunto: para onde vão as ambulâncias que diariamente abundam na Paulista, em dias de manifestações?

Outra vertente interessante desse vasto assunto é a entrevista do Jô com Marco Antônio Villa (24.06) que ganha nesse instante a louvável tarja – Tudo Aquilo que Você Queria Saber Sobre o Tempestuoso Presente com o Olhar de Gente Grande.

Villa escreveu um livro sobre o Mensalão, mas ele tem uma sortida munição na ponta da língua, dessas insofismáveis, e o Jô dispensa quaisquer adjetivos no que tange a inteligência. A inteligência dele, em si, já é um adjetivo.

Foram dois blocos onde eles falaram do que ainda não foi devidamente falado, apontando soluções e lembrando mazelas que ainda tentam esconder. O próprio Villa usou a expressão: do jeito que estava não dava mais.

Resta, por hora, o grande saldo positivo, ou pelo menos o que aparenta ser: os governantes prestaram atenção às solicitações e se dispuseram a ouvir.

Em meio a esse papo todo, em 25.06, após assistir uma excelente reportagem da Record sobre o Maracanã, fico me perguntando por que a concorrente, considerada a emissora número um, tem um jornalismo, digamos, tão omisso? Enfim, você assiste a reportagem e sente um certo engulho, daí começa a se perguntar que tipo de gente é essa que toma medidas tão despropositadas? E depois agradece pelo jornalismo sério, porque, deixando de lado as conotações nazi-fascistas, e falando exclusivamente por mim, o mote O Gigante Acordou está falando da minha consciência. Da consciência individual de cada um de nós.
Eu não preciso de uma camiseta com uma cor específica, munida ou não de um logotipo, para estender a mão ao próximo.
Seja essa mão estendida um prato de comida ou um pequeno projeto para a melhoria do meu bairro. É esse gigante que está cada vez mais indignado com os promotores de bandalheiras.

Hoje, outro fato histórico, foi decretada a prisão de um político de Rondônia.

Talvez estejamos no início de uma curva de aprendizado ético.

Encerramos com uma pérola, um falso hiato e outra pérola:

“Política é perfurar devagar madeiras resistentes”.

A atual conjuntura de evolução planetária começa a permitir e a acolher a idéia da mente quântica expandida, fator que convida a uma conexão com as funções superiores da consciência, tais como: discernimento, empatia, amor, pensamento abstrato e simbólico, telepatia e intuição.

Tudo isso, nas palavras do guru H. Moura Leal, se traduz numa máxima definitiva para o momento:

“O que é, é, e o que não é, deixa de ser”.


(Imagem: Mona Hatoum, Undercurrent,  red, 2008)
 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 18/06/2013
Reeditado em 15/05/2021
Código do texto: T4347246
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