"Lorem ipsum" - Um flash mob engajado

Após uma semana de manifestações, cada vez mais intensas e tensas, tomei coragem e me fiz três perguntas que imagino, muitos também as possuem na ponta da língua: "Quem está à frente?"; "O que querem?"; "Quem é o alvo?".

Também busquei uma forma de classifica-la, e me deparei com títulos para todos os gostos: "Revolução dos 20 Centavos"; "Revolta do Vinagre"; "Manifestação Nacional em prol de um Brasil Melhor"; E por aí vai. Mas, sinceramente, nenhuma delas representou minha visão sobre os acontecimentos atuais, então resolvi inventar meu próprio nome: FLAMOBENGA (Flash Mob Engajado). Mas, não veja isso como um menosprezo pseudo-intelectualizado, apenas tentei tirar um pouco o pé do acelerador em meio a neblina, ou mesmo, tomar um pouco da Coca-Cola antes de jogar o Mentos.

Ao contrário do que li em muitos comentários afobados, não vejo porque uma manifestação iniciada com objetivo de reduzir vinte centavos de uma tarifa de ônibus é fútil e não pode ser, em si mesma, suficiente. Pois, ao meu ver, um cidadão tem o direito de reclamar sobre um imposto injusto, tendo em vista a péssima qualidade do serviço que é oferecido do outro lado. E também grandiosa, pois, mesmo a tarifa sendo reduzida e o objetivo inicial sendo alcançado a mobilização não só continua, como ganha corpo a cada dia.

Quando vi no noticiário o planalto sendo tomado pela multidão, inevitavelmente veio a mente as aulas de história, mais especificadamente a tomada da Bastilha, que desencadeou uma das maiores revoluções modernas, a francesa, e pensar que o estopim foi o preço do pão... Vinte centavos deixam de ser tão fúteis assim.

Desta forma, quando me perguntei: "Quem está à Frente?", e li sobre o Movimento Passe Livre (MPL), Juntos!, entre outros, pensei: Num flash mob, a massa é o show, e o "cara que mandou o e-mail" é responsável apenas pelo convite, e sinceramente, até agora não vi nenhum líder emergir dentre a massa, no máximo, representantes para fazer a ponte da comunicação com as autoridades. Pelo menos, por enquanto.

Em seguida: "O que querem?", depois da vitória sobre os vinte centavos, ajustei a pergunta: "O que queremos", e o que todos nós queremos afinal? Um país mais justo com impostos decentes e revertidos para nossos direitos básicos como educação, saúde, transporte, segurança, etc; Mas, e a copa? Bem, falando por mim, eu quero a copa aqui, mas sendo coerente com a finalidade dela - um evento esportivo com fins lucrativos - penso que deveria ser responsabilidade da iniciativa privada, tão somente.

E a terceira: "Quem é o alvo?", Haddad? Alckimin? Dilma? Lula? Feliciano? PT? PSDB? Pensando em autoridades ou representantes do povo com problemas em suas gestões públicas, todos e mais todos os outros.

Acho que o grande legado de tudo que está ocorrendo é que aprendemos como COBRAR nossos representantes, e talvez assim como faço no cinema (Assisto as trilogias de sucesso do cinema do último para o primeiro, mas, no fim acabo entendendo a história), aprendamos também a ESCOLHER nossos representantes nas próximas eleições.

Não sei qual será o impacto destes dias na política do nosso país, ninguém sabe, mas, nem por isso o movimento perderá o seu valor;

Existem relatos de grupos de skinheads, comunistas, anarquistas, direitista, esquerdista, entre outros, infiltrados entre os manifestantes e responsáveis pelas quebradeiras e depredações que a mídia tanto gosta de noticiar, mas, nem por isso o movimento perderá o seu valor;

Creio que é um bom momento para a polícia aprender a lidar com manifestações legítimas, e aprender a separar o joio do trigo. Mas, nem por isso o movimento perderá o seu valor;

Ele só perderá o seu valor se a população se deixar ser massa de manobra partidária, ou se deixar conduzir por líderes populistas que daqui a pouco aparecerão, ou votar nos Maluf's e cia ltda. nas próximas eleições, ou deixar de apoiar toda e qualquer iniciativa que tenha como alvo um país mais justo, venha de onde vier.