2013: Ainda não terminou¹

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser,

Mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

(Voltaire)

No Brasil, as manifestações populares pontuais deixaram marcas indeléveis na construção da nossa democracia.

Desde a “Passeata dos 100 mil” em 1968, chegando às "Diretas Já" nos anos oitenta, depois os "Caras Pintadas" na década de noventa, e agora em 2013, o "Passe livre", movimento que uniu milhares de pessoas em todo o país e conseguiu o recuo nas tarifas dos transportes públicos urbanos.

O discurso político rapidamente mudou e as tarifas voltaram ao preço anterior, mas para bancar esse custo, os investimentos públicos diminuirão em outros setores sociais.

Então, satisfeitos com o aceno positivo dos governantes o movimento “Passe livre” tirou o time de campo comemorando a conquista nas ruas.

Mas, os protestos continuam e abrangem diversas reivindicações que vão desde a PEC 37 ao Sistema de Saúde, Segurança Pública e Educação, passando pela "Cura gay" e outras bizarrices promovidas no Congresso Nacional.

Agora, sem lideres, o movimento continua e precisamos ser mais organizados nas reivindicações e prioritariamente, nos manifestarmos pacificamente.

Porém, a bandidagem se fortaleceu e ataca o patrimônio público e privado promovendo o caos em quase todas as cidades que se mobilizaram nas ruas.

O fato é que, não há inteligência por parte da polícia que, ou atua ostensivamente contra os manifestantes ou assiste passivamente as incursões contra o patrimônio ou, por vezes, chega atrasada ao local do vandalismo.

Os governantes não sabem o que fazer e o discurso é vago.

Nossa presidenta foi muito subjetiva nas palavras expressadas em rádio e TV na noite de 21 de junho e se mostra indecisa quanto à tomada de decisões que mudem o rumo dos “protestos da pilhagem”.

Observamos que a "onda ideológica" não vai se deslocando bem nos últimos dias, bem diferente de quando começou a ganhar força em 17 de junho.

Sobre os eventos esportivos de futebol, 28 bilhões foram gastos até agora. Podemos afirmar que: “O povo acordou tarde?”

Seria um erro cancelar o evento “Copa do Mundo 2014” e deixar esses mega estádios plantados nas cidades sede?

Obras caras e sem função. Elefantes brancos, semiacabados! Não creio que essa seja a solução.

O povo precisa se organizar para as futuras eleições. Nela, vemos que muitos ainda desperdiçam o seu voto, brincando nas urnas ou elegendo os mesmos velhos caciques ou os filhos dos velhos caciques e os indicados, os construídos pelos velhos líderes e pelo sistema partidário da política brasileira de oposição medíocre e situação corrompida.

Nossa consciência política é frágil e não acreditamos mais nos nossos governantes.

O povo se pergunta: “No congresso, quem me representa? Na câmara, quem me representa?”

Não temos um (a) líder que assuma verdadeiramente os rumos da nação. Alguém realmente preparado (a) para tamanha responsabilidade. O discurso é sempre vago e subjetivo, e muda de acordo com as conveniências. As ações das lideranças são passivas ou destrambelhadas.

Com certeza o exército não voltará às ruas, para não se caracterizar uma “guerra civil”. Isso poderia trazer, além do medo de uma neo-ditadura, um risco de caos econômico, social e político.

Tudo isso me faz lembrar Voltaire: “Os homens raramente são dignos de governarem para o povo e se governarem para o partido.”

Comecei esperançoso com essa “Copa das Manifestações”, mas agora, temo que não consigamos sair dessa armadilha em que nós nos metemos.

¹Título baseado em: "1968, o ano que não terminou"

Zuenir Ventura.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 22/06/2013
Reeditado em 22/06/2013
Código do texto: T4353568
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