DO QUEBRA-QUILOS ÀS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013


Nasce um novo pensar, um novo agir e demandar. As manifestações de outrora tinham alvo certo e origem conhecida.
A Revolta do Quebra-Quilos (século XIX – reinado de D. Pedro II – implantação do sistema métrico decimal - quilo, metro e litro), onde o povo não confiou na mudança anunciada (o País adotava a arroba e a libra) e protestou ferozmente nos estados brasileiros, e a Revolta da Vacina, em 1904, o povo insurgiu-se contra a vacina obrigatória imposta pelo gênio Dr. Oswaldo Cruz. Os pobres, os mais afetados pela varíola, reagiram com violência (armados de porretes e navalhas) quando os agentes da Saúde do Rio de Janeiro tentavam vaciná-los. Muitos morreram nessa Revolta, mas o governo do Rio, com a devida paciência, soube debelar os conflitos e, mais tarde, vacinou toda a população, erradicando a varíola naquele espaço.
Os Caras-Pintadas surgiram em Brasília, em 1992, e exigiram a saída do presidente Collor do cargo que ocupava na República. Era uma tribo estudantil organizada para protestos direcionados a Fernando Collor, PC Farias e outros envolvidos em negócios e transações governamentais. Collor sofreu o impeachment declarado pelo Congresso Nacional e abandonou por um breve tempo o Brasil.
Os movimentos de protestos nacionais de junho de 2013 nasceram de forma espontânea em vários locais e tiveram como vetor de estímulo e coordenação as redes sociais virtuais e a disposição do povo para a ação.
Plenamente compreensível o pacifismo inicial do povo nas ruas e o aparecimento e aumento do vandalismo a partir de certo ponto dos eventos. Sempre ocorrem infiltrações de entidades insatisfeitas, assim como a adesão de anarquistas violentos e o devido aproveitamento da onda de fúria pelos contumazes infratores de plantão, os aproveitadores do caos estabelecido.
As autoridades nacionais ficaram hesitantes e a inação oficial reinou. O que fazer? O não entendimento das causas conduziram à sucessivas tomadas de decisão e ação, no mínimo desconexas, que começaram com a polícia atacando, com força desproporcional, movimentos pacíficos até a emissão da mensagem do plebiscito com os cinco temas previamente selecionados pela chefe do
Executivo.
As manifestações de agora são multifacetadas em demadas e os fatos geradores, pouco nítidos, evidenciam causas relacionadas com os ineficientes serviços públicos oferecidos à população, assim como a tolerância zero com a corrupção.
As prioridades dos governos apresentaram-se equivocadas e isso foi atestado nas manifestações de junho de 2013. Junto desse desvio é relevante frisar o vazio de lideranças reais.
Que as cidades tornam-se um inferno para viver, todos sabem, mas esse pensamento foi gerando impossibilidades de agir e reagir para eliminar o caos instalado nas cidades. A falta de recursos era sempre alegada. De repente, aparecem recursos para fazer estádios. Como isso pode melhorar o cotidiano dos urbanóides?
Os insumos que constroem um estádio são os mesmos que edificam um metro. A sabedoria do povo não deve ser achincalhada. As pessoas perceberam o nó das autoridades. Quando há interesse há recursos.
Como afirmado por Delfim Neto, o que se quer é uma sociedade com liberdade individual, relativa igualdade e eficiência produtiva. Para atingir esse patamar faz-se necessário definir mecanismos para o alcance desses objetivos nem sempre conciliáveis. Esses mecanismos são o mercado e a urna. Se a urna exagera, o mercado corrige. Se o mercado exagera, a urna corrige.
A educação é fundamental nesse contexto e essencial para que o eleitor saiba que pode ser atendido dentro de parâmetros razoáveis. Ela é fundamental para salvar não só a economia, mas a democracia.
O Banco Central (BC) fatigou-se pensando em aliar-se à política fiscal para combater à inflação. Desistiu e passou a operar com aquilo que pode fazer efeito: vai realizar incremento nos juros até alcançar a meta, provavelmente dentro de uns 20 meses.
O governo sofreu de excesso de imaginação contábil. Urge elaborar um programa fiscal para os próximos quatros anos. Essa criação aliada à transparência das contas poderá salvar o governo do já combalido descrédito.
O País está faceando o limite da tolerância, não provoquem ainda mais o povo com inflação alta e déficit nas transações internacionais. Urge um ajuste fiscal sério, apartidário e planejado para ações internas e externas. Truques contábeis não se sustentam mais. Percebam o desejo do povo e apostem nesse ajuste fiscal.
Sobre a dívida nacional, consta do Relatório Anual do Banco de Compensações Internacionais (BIS) que o Brasil detém o maior endividamento bruto entre os grandes emergentes, a dívida bruta brasileira (67%) terminará o ano bem acima do patamar de 40% considerado "seguro" pelo BIS. Entre os demais emergentes, todos têm indicadores melhores: a China tem dívida bruta de 21% do PIB, a Indonésia está com 24%, a Coreia do Sul aponta 35% e o México com 44%.
As ruas acordaram o Brasil, falta apenas ele levantar e andar. Levanta-te e anda Gigante!