A nossa esquerda destra. E manca.

A entrevista concedida por Rui Falcão no Roda Viva nesta segunda-feira (15) só ratifica o título deste despretensioso texto. De modo metonímico, porém arbitrário, sou forçado a estender o despreparo de Falcão ao PT como entidade, já que ele é o presidente do partido.

Ficou nítido que falta a Rui Falcão fundamentação teórica. Com uma argumentação superficial, ele esquivou-se da grande maioria das perguntas (que, diga-se de passagem, passaram longe do brilhantismo). Pintou um país cor-de-rosa com frases de efeito e uma subserviência ideológica que flertou com o ridículo: elogiou a condução da nau tupiniquim pelo “único partido verdadeiramente de esquerda do Brasil”; falou da boa-vontade da “presidenta” em conversar com as “minorias” e com os jovens “revoltosos”; reiterou a urgência do plebiscito, já que é hora de “ouvir o povo” e blá-blá-blá...

A retórica de Falcão é, no mínimo, espantosa. Até quando o PT vai fingir que comanda a Noruega? Comandar, de fato, é um verbo adequado. Afinal, grande parte da entrevista foi dedicada às estratégias para se manter no poder após 2014, como se o PT fosse dono do latifúndio chamado Brasil. O deputado petista, talvez sem se dar conta, é um árduo defensor do coronelismo que, desde o início do século passado, vige em nosso país. A diferença é que agora, para que a manutenção prevaleça, são feitas alianças partidárias escusas e, como isso, a ideologia que ainda consta na “filosofia” do partido, amarela nos papéis engavetados.

Sem adentrar nos meandros da corrupção, fica a pergunta: como é possível chamar de esquerda um governo que substitui a política (em sua acepção mais profunda) pela economia? Que alicerça seu discurso no progressismo e no crescimento econômico? Que se vangloria do desenvolvimento pautado no trinômio emprego-renda-consumo e, para isso, distribui bolsa de tudo que é formato? Um governo que, antes de se preocupar com o fundamento de qualquer nação que é a educação, cria um programa para que os “eleitores” possam comprar móveis e eletrodomésticos com mais facilidade? Pois é, caros camaradas. Vocês, os Che Guevaras tupiniquins, são os que agora só conseguem sustentar a energia do Brasil através da roda do capital!

De fato, o Partido dos Trabalhadores era, para muitos, a esperança de justiça e equidade. E quando chegou ao poder no início do século, os sonhos vermelhos, enfim, seriam concretizados. Seriam! Emaranhado nas redes do sistema, o PT não conseguiu fugir à lógica neoliberal. E até hoje está endireitando o Brasil!