Fracos de Espírito

O Brasil está carente de lideranças políticas, há muito tempo. Aliás, acrescento, não fazemos esforço algum para produzi-las. Nas escolas, nas ruas, em toda a sociedade, a política (no máximo, e quando não é simplesmente ignorada) é atrelada a coisa suja, desonesta, feita para e por aproveitadores profissionais.

Precisamos ensinar Política. Precisamos aprender Política. Precisamos exercer, praticar a Política. É fácil perceber em alguns jovens (e não jovens), a exemplo dos manifestantes de rua, como são fracos de espírito, pobres de ideias, de objetivos. São os que abominam a figura do líder, rótulos, bandeiras, etc. São os que se fazem gado tangido pelo aboio de redes sociais. Não me sinto bem em dignificar manifestações, somente porque são volumosas. Em certos casos, representam a mais pura mediocridade (sinto em falar com tanta aspereza). Sem perceber, os manifestantes se tornarão massa de manobra, mais cedo ou mais tarde. Lembro-me de minhas rebeldias juvenis. Entendo o desejo incerto, o ânimo revoltado, a indignação que não se consegue conter. E, por isso mesmo, preocupo-me.

Nossos “rebeldes em busca de uma causa” devem ser, antes de enaltecidos, lembrados de que vivemos numa Democracia, e orientados a jogar o "jogo democrático". Eles podem votar livremente, participar de audiências no parlamento, formar instituições representativas, criar "partidos políticos" (sim, eles são as bases da organização política democrática que conquistamos). Só não podem parar cidades inteiras, duas vezes por semana, nem quebrar lojas, roubar, queimar, expressar ódios incompreensíveis, por nada (ou por 20 centavos). Alguém já calculou quantos "maracanãs" os manifestantes gastaram com suas atitudes? Quanto custa parar Rio e São Paulo por um dia apenas? Quanto custa reparar o patrimônio público destruído? Alguém teve a coragem de falar sobre isso?

Ainda não vi nem ouvi um crítico corajoso. Os políticos que tentaram fazer alguma coisa se tornaram alvos (a exemplo da presidente, que viu sua popularidade despencar). Os covardes calam, e assim conseguem esquivar-se das lanças, das pedras e paus arremessados. Ninguém teve coragem de chamá-los de tolos, de ingênuos, de violentos, de imputar-lhes culpa pelo vandalismo. Todos preferiram dizer que era a "voz das ruas", e que "uma mensagem está se formando", e a pérola "a maioria é pacífica". Então, precisamos também afirmar (por coerência) que a maioria dos políticos é honesta, que a voz dos políticos é a voz das ruas (eles são eleitos, em pleitos livres, democráticos!). E devemos, por justiça, dizer que os políticos estão até tentando agir em consonância com as demandas. Mas, eles não sabem (como todos nós) que diacho de demanda acéfalo-vazio-violenta é essa. Então, adotam alguma demanda mediática, ou ressuscitam algum defunto-pleito-mal-resolvido, e seguem tentando.

Aliás, o que realmente sabemos é que temos problemas, muitos problemas; e que alguns ingênuos sem causas (muito mal acompanhados) manifestam publicamente suas múltiplas angústias. Enquanto isso, coletivamente, manifestantes e não-manifestantes, espectadores e atores, reafirmamos nossa imaturidade social. Parece que não aprendemos, que nada valeu a morte de tantos em defesa da liberdade política. Com uma certa tristeza, olho ao meu redor, enxergo uma sociedade consumista, um gado mediático, pouco solidário, "acéfalo", que adota a violência como forma de resolver suas diferenças.

Aluísio Azevedo Júnior
Enviado por Aluísio Azevedo Júnior em 03/08/2013
Reeditado em 27/10/2013
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