Manobras Bem Sucedidas

A gente não se dá conta da capacidade que tem o poder estatal de se mobilizar para o controle da cabeça das pessoas. Operações clandestinas nesse sentido são secretas para quem fica em casa. Mas não para o Congresso e nem para a mídia. Sendo essa última um fator primordial na escalada de procedimentos voltados à configuração do pensamento da população.

Nasce dessa configuração a restrição de muitos brasileiros em relação a Cuba, Venezuela, Bolívia e outros países que lutam por uma situação de independência mais digna. Porque a imprensa de maior alcance não economiza críticas a esses países. Mesmo que sejam infundadas.

E dela nasce também o fato de votarmos não exatamente em quem queremos. Mas naqueles cujos nomes são incansavelmente martelados em nossas cabeças. E isso assume proporções mais assustadoras no Brasil, um dos poucos países em que o voto é ainda obrigatório.

Torna-se, portanto, inócua ou sem fundamentação a afirmação de que no Brasil o eleitorado é cúmplice da corrupção. Simplesmente porque o eleitor, a rigor, não tem muita possibilidade de escolha. Já que ele participa de um sistema de votação viciado em que, pelas práticas comuns a todos os candidatos, antes e/ou depois de eleitos, eles se tornam iguais ou extremamente semelhantes, diferenciando-se apenas em seus nomes. Pois, via de regra, dedicam-se à política em busca da realização pessoal, face às inúmeras vantagens oferecidas. E não à representação dos interesses de seus eleitores. Por desconhecerem inteiramente, salvo possíveis exceções, o que seja espírito público.

Com as manobras secretas e a mídia explica-se, de certo modo, porque um cidadão que é destituído da Presidência do Brasil consegue depois se tornar um senador da República. Como explica ainda a longevidade política de um outro cidadão, cúmplice da ditadura militar implantada a partir de 1964, que pode se valer da confiança dos militares para ocupar a Presidência do país ao fim do período de exceção. E continuar ocupando até os dias de hoje, por algumas vezes, o cargo de chefe maior do Senado Federal.

Só para ficar com esses dois exemplos, pergunta-se: será que era esse o desejo do povo brasileiro? Será que fomos cúmplices disso? Ou será que tais fatos tornaram-se possíveis em função de certas manobras, desconhecidas por nós, mas não por esses políticos, e seus comparsas, como por setores privilegiados da mídia? Segmento para o qual a informação do público tem caráter secundário em relação à saúde financeira das empresas jornalísticas, de televisão, etc. Todas elas vivendo primeiro de seus anunciantes e depois dos níveis de audiência. Ou da venda de seus periódicos.

Em um sistema eleitoral em que o voto não é FACULTATIVO, aí mesmo é que se reveste de insignificância a ideia de que o eleitorado possa ser cúmplice da baixa qualidade do político brasileiro.

A eleição de um comediante, por exemplo, para o cargo de vereador, deputado, etc. acontece não pela sua plataforma política, pelo conteúdo de seus pronunciamentos ou por trabalhos representativos que sejam do conhecimento de alguns ou de muitos. Ela acontece exclusivamente pela sua popularidade. Assim como a eleição de radialistas, jogadores de futebol, atores, atrizes, cantores, etc. Amparados que são, além da popularidade, na obrigatoriedade do voto. Se temos que votar em alguém, por que não experimentarmos nessas pessoas do meio artístico, desportivo, televisivo, etc.? Quem sabe não teremos mais sorte?

Isso é ser cúmplice de alguma coisa?

Só deixando a população com a liberdade de votar se quiser, a escolha poderá ser mais acertada. É possível que num primeiro momento, no dia da eleição, todo mundo vá à praia, ao boliche ou fique em casa ouvindo música, que é melhor que assistir televisão. Porque é essa a reação normal do eleitor diante do nível profissional, intelectual e moral do atual político brasileiro.

Mas ao longo do tempo, a renovação do perfil dos candidatos se fará necessária para fazer face à progressiva conscientização do eleitor. Que se sentirá mais à vontade e mais motivado para pensar na possibilidade de influir nos destinos de sua cidade e de seu país. O que o levará a um comparecimento maior às urnas. Sem que para isso se sinta obrigado.

Rio, 05/08/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 06/08/2013
Reeditado em 10/08/2013
Código do texto: T4421524
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