Como enganar o povo fazendo mágicas com as palavras e seus conceitos

Há no momento o uso e abuso da deterioração das palavras e dos conceitos a que elas se referem para impor e justificar atos governamentais, denegrir classes de trabalhadores, como os médicos, e desculpabilizar pessoas condenadas. É a prestidigitação com palavras. Assim, pôde o ministro da saúde impor o Mais Médicos, encantando a pessoa do povo com a impressão de que terá mais Saúde tendo mais médicos, mas alocando médicos em cidades sem o mínimo de infra-estrutura básica para uma consulta médica, e o pior, desviando para outros países, inclusive pagando comissão a intermediários, recursos que poderiam amenizar esta falta de infra-estrutura. Sim, posso atender um paciente no meio da rua em situação de calamidade pública, sem os recursos necessários para uma consulta médica e sem a infra-estrutura necessária para a atenção à doença e aos agravos do corpo, que, em si, teriam sido destruídas pelo agente calamitoso ou catastrófico que desorganize a Sociedade. No entanto, devo me recusar a atender pacientes rotineira e sistematicamente sem recursos mínimos no consultório, iniciando pelo de privacidade da relação médico-paciente, passando pelos recursos materiais no consultório, que a consulta médica não se faz apenas com aparelho de pressão e estetoscópio, e sem infra-estrutura para onde encaminhar o paciente para o atendimento completo a que faz jus como ser humano. Não se há de negar uma angioplastia coronariana apenas porque o doente está em uma reserva indígena, muito menos reciclar seringas descartáveis, muito menos fazer pacientes de postos de saúde do SUS, não de periferias nem de pequenas cidades desprovidas de cidadania, esperar até dois anos para o procedimento, enquanto se desvia recursos para outro país.

Também a prestidigitação com palavras ocorreu quando o Mais Médicos se instalou sem respeitar as Leis vigentes, do Revalida e Trabalhistas. Para burlar as Leis Trabalhistas desviou-se o sentido de CONTRATO DE TRABALHO COM PRAZO DETERMINADO, que está sujeito às Leis Trabalhistas, para “bolsa de residência”, que tem Leis regulamentadoras diferenciadas. Color confiscou caderneta de poupança com promessa de devolução em 18 meses. Como a Constituição proibe CONFISCO, há um projeto de lei a ser colocado em votação que mudou o nome para EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO com devolução em 10 anos e assim, MUDANDO O NOME TODOS ACEITARÃO CALADOS e baterão palmas como agora,

O encantamento também se faz com imagens e palavras: houve a acusação de xenofobia e preconceito aos médicos brasileiros que vaiaram médicos cubanos, aproveitando-se uma foto em que surgem pessoas, algumas vestidas de médico ou portando instrumentos que identificam a profissão, vaiando médicos cubanos, mas com o destaque para a figura de um médico negro, induzindo o pensamento de que os médicos brasileiros vaiavam um negro! A vaia é uma manifestação válida, enquanto a depredação de bens públicos ou privados não o é. A presidente foi vaiada em estádio de futebol, e tomou-se como indicador da raiva do povo, acertadamente. No entanto, calou-se vergonhosamente quando, em uma reunião com prefeitos, a presidente foi vaiada por prefeitos, numa demonstração cabal de falta de decoro parlamentar.

Houve em no movimento de junho a observação de que “o movimento das ruas não tinha líderes com quem conversar” e operou-se novamente a deterioração entre a Palavra e o Conceito. Primeiro recebeu-se para discussão de reivindicações líderes de grupelhos de depredadores dos bens públicos e privados, naquele momento não organizados como atualmente, masturbadores com crucifixos, bloqueadores de ruas e estradas, de queimadores da bandeira brasileira e hasteadores da bandeira de Cuba, e de adolescentes que buscam a proteção paternal querendo passe livre, sem que lhes tenha sido dito a verdade, não existe melhoria do serviço de transporte urbano sem gastos e que “de graça, só injeção na testa”. Estes grupelhos foram recebidos como representantes da Sociedade Organizada. Segundo, impôs um programa Mais Médicos à revelia dos Conselhos de Medicina, estes sim partícipes da mesa da Sociedade Organizada. O deslizamento entre a Palavra e Conceito se dá ao considerar como membros da Sociedade Organizada grupelhos, felizmente ainda pequenos, cuja libido é desorganizadora da Sociedade.

Contudo, o maior disparate está para acontecer com o julgamento dos tais “recursos infringentes”, em realidade “recursos de embargos infringentes”, passíveis de serem lembrados em julgamentos em que pelo menos um Juiz, ou um número determinado de Juízes, sejam discordantes da sentença proferida como votos vencidos. Onde está o erro? Não entendo suficientemente de Direito, apenas entendo do óbvio: se em um julgamento desta natureza por um tribunal de caráter supremo houver unanimidade, não surgirem votos divergentes vencidos, só tem uma explicação: não é um julgamento válido, mas um julgamento de votos comprados.

O Recurso Infringente não se aplica às decisões do STF, pois aplicá-lo é determinar a inutilidade do tribunal. “Infringente” deriva de “infringir”, que significa “violar”, “transgredir”. Suspeita-se mesmo de ter havido um deslizamento de conceitos para esta locução por lapsus linguae, por ser impossível acreditar que quem tenha entrado com tais recursos não tenha ciência de estar infringindo as regras Éticas e Morais.

É preciso estar atento não ao NOME dado ao que se faz, mas à essência do que se faz!