O círculo da manipulação midiática

Quem apreendeu o processo de construção dos temidos TCC’s, já percebeu que trata-se de uma pesquisa bibliográfica focada em determinada tese, que deve ser analisada à luz da produção literária existente. O bom debatedor entende logo que deve consultar visões diversas sobre a afirmação que pretende sustentar, apresentando excertos com fundamentação de autores consagrados que sustentem esta tese, demolindo opiniões divergentes através de uma argumentação lógica e racional.

Agora imaginemos um TCC em que o graduando já tenha tratado do tema anteriormente em várias obras e resolva utilizar excertos daquilo que ele próprio escreveu para provar aquilo que está sustentando. Parece surreal, não parece? Bem, no universo dos TCC’s talvez seja. Mas na mídia não.

Quando chega à mídia, o assunto já passou pelo crivo da relevância editorial, fixado pelos grupos econômicos que dominam o negócio midiático. Chegam, portanto, carregados por juízos de valor. A repetição do assunto dissemina esse juízo de valor. As pessoas que se informam por esses meios, recebem a notícia com a significação que lhe é dada pelo tratamento midiático, tendem a reproduzir esse ponto de vista, transformando a opinião publicada na propalada “opinião pública”. E o círculo da manipulação se completa com as famosas enquetes, em que dois ou três testemunhos de pessoas comuns repetem o tema já com o juízo de valor devidamente incutido. Pronto, aquele ponto de vista nascido do editor, agora já foi apropriado pelo indivíduo comum e volta à mídia, devidamente consagrado como expressão da livre expressão do cidadão.

Retornamos então ao nosso TCC. O Tema já foi escolhido. O conhecimento sobre o assunto já foi produzido. Basta escolher os excertos apropriados, demolir as divergências e confirmar a tese. E aquilo que parecia surreal de repente se torna real. A mídia produziu seus livros e utiliza-os para comprovar sua tese e demolir as divergências com a autoridade de quem apenas ecoa a “opinião pública”.

E pensar que muita gente que faz parte dessa “opinião pública” se pensa altamente informada e livre-pensadora. Talvez nunca tenham refletido adequadamente sobre uma afirmação do ativista norte-americano Malcom X que nos alerta exatamente sobre o poder da mídia: “Se você não for bastante crítico e atento, a mídia acabará por fazer com que odeie os oprimidos e ame os opressores” .