OS INTELECTUAIS, A VOLTA À "CAVERNA" PLATÔNICA E A OMISSÃO DA VERDADE.

Por Francinaldo Morais¹

Dois educadores brasileiros, entre os muitos que tenho como referências, manifestaram publicamente suas desconfianças com relação aos intelectuais. Refiro-me ao antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997) e ao economista e escritor Paul Singer (1932-).

Darcy falou que os intelectuais não são confiáveis. O autor de O povo brasileiro afirmou, ainda, que muitos professores, pelo que pensam e fazem, ganham mais do que merecem. Singer, proponente da “economia solidária”, disse, em meio a sua extensa experiência como professor universitário, que no ambiente intelectual acadêmico, em regra, não se pode confiar em ninguém, pois impera ali relações artificiais, baseadas predominantemente na falsidade.

Em Caxias-MA, o principal espaço de formação de intelectuais é o Centro de Estudos Superiores de Caxias-CESC/UEMA. De lá saiu a maioria dos secretários de educação e de cultura do nosso município e grande parte dos secretários/gestores regionais de educação. O plantel de mestres e doutores do CESC/UEMA é de causar inveja a muitas faculdades particulares dos estados do Maranhão e Piauí. E, registro, estou considerando aqui somente os mestres e doutores caxienses.

Não obstante esse perfil acadêmico elevado e o “reconhecimento” que esses mestres e doutores recebem com as indicações para ocuparem secretarias e/ou gerências, um jornalista local suscitou que não se tem conhecimento do que pensam a respeito das demandas populares; sobre os desatinos dos governantes local e estadual ou de ideias que possam vir a resolver essas ou corrigir estes (JP/OFF, 19.05.11,p.6). São bem formados, competentes tecnicamente, mas não aceitam sair da “zona de conforto” onde se encontram para se comprometerem politicamente com os que permanecem na “caverna platônica”. Preferem esperar que a cada troca de governo municipal ou estadual emerjam da “lista” dos que “podem” ocupar cargos de confianças. Muitas vezes, praticam desmandos contra seus pares, como “realistas” servis, conforme escrevi recentemente (Blog John Cutrim, 11.01.12 e Debate Democrático, 13.01.12).

A SEDUC-MA está repleta de intelectuais formados na UEMA. A URE-CX abriga aproximadamente vinte (20) intelectuais, contando mestres e doutores, entre os quais muitos caxienses com formação superior inicial e lotação no CESCUEMA, mas que não se sabe o grau de comprometimento técnico com a mais recente decisão administrativa da governadora Roseana Sarney, isto é, fechar as escolas estaduais CEM Gonçalves Dias e o CEM Cônego Aderson Guimarães Junior (Seduc/Ascom, 11.01.12). Esses intelectuais não receberam formação para a opressão, pelo contrário, juraram a liberdade, a fraternidade e a justiça social. Ocorre que, talvez por cansaço “espiritual” ou vencidos pelos encantos do consumismo capitalista, foram se afastando lentamente do humanismo que a universidade “plantou” nos seus corações.

Eu, que assumo a biblioteca do CESC/UEMA, seus corredores, seus bancos sob oitizeiros, goiabeiras, cajueiros, mangueiras e babaçús; suas salas, as relações com professores e alunos, como espaços culturais privilegiados onde pude organizar minhas preparação técnica e consciência política básicas, tenho, como posso, denunciado as “imagens distorcidas nas paredes”. Mas o poder que gera maldades como as na/da educação do estado do Maranhão, para ser vencido, ou pelo menos contido nos desatinos mais terríveis, faz-se necessário os comprometimentos políticos de todos os que um dia saíram da “caverna” e pensaram em voltar para emancipar os que lá ficaram.

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¹ Professor de História, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias-MA-IHGC e acadêmico de Direito.

Francinaldo Morais
Enviado por Francinaldo Morais em 05/11/2013
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