A EDUCAÇÃO VISTA POR SARNEY (1969) E POR ROSEANA (2012).

Por Francinaldo de Jesus Morais¹

Era o ano de 1969. Eu, uma criança com cinco anos de idade, vivia na minha cidade natal, Caxias do Maranhão. Algumas lembranças me ocorrem agora. Morava na Rua Cel. Manoel Gonçalves, no Pau d’Água, e corria para detrás de um grande pé de piqui, que ficava no fundo do quintal da minha casa, com medo do apito dos trens “horário” e “cargueiro” que passavam de Teresina,PI--São Luis,MA e/ou São Luis,MA--Teresina,PI. Não entendia nada, mas era levado para assistir novelas na TV pública próxima a um poço, ativo à época, na “pracinha da linha do trem”. Hoje existe uma amendoeira no local do antigo poço e, na pracinha, mototaxistas esperam clientes; pessoas da Rua Cel. Manoel Gonçalves, do Beco do Onze e adjacências, reúnem-se para conversas e jogos de dominó e baralho. No mês de junho, brincava nos bumba-boi do Cangalheiro, bairro do meu nascimento e da casa da minha avó Zezinha. Os bumba-boi eram organizados pelo Chico da Agostinha, da Rua do Angelim, e pela família dos Catitas, do Sovaco da Jumenta. As apresentações costumavam ser às tardinhas, nos bairros, mas também, no adro da igreja da Catedral. Ia paramentado com camisa quadriculada e chapéu de palha com fitas coloridas coladas na aba. Cantavam-se nesses dois bois, entre outras, a toada: “Quando o coco der dinheiro/ eu vou quebrar ele,/ mas eu vou brocar,/ eu vou derrubar,/ minha roça primeiro”.

Roseana com o pai José Sarney

O filho do desembargador José de Araújo Costa, o bacharel em Direito José Ribamar Ferreira Araújo Costa, 39 anos de idade, seguindo a “cartilha” dos militares, governava o Maranhão a quatro anos, prometendo ser diferente do “criador”, o oligarca Vitorino Freire (1908-1977). Naquele ano de 1969, José Sarney, seu terceiro nome e como viria a ser conhecido na política, esteve na minha terra, ajudando o então prefeito “tenente” Aluizio Abreu Lobo a inaugurar um conjunto de obras públicas urbanas.

Ouvi, certa vez, um caxiense contemporâneo de Sarney, dizer que ficou impressionado com o fato deste usar um fragmento de pensamento atribuído ao filósofo liberal Vitor Hugo (1802-1885), naquele ano, em frente ao prédio da Casa do Estudante, situado a Rua Dr. Berredo, 756, Centro. Segundo a lembrança desse informante, Sarney, emocionado, falou: “(...) Porque, como pensava Vitor Hugo, a cada escola que se abre é uma cadeia que se fecha (...)”.

Hoje, 13 de janeiro de 2012, leio em Ascom/Seduc, que foi feito um “planejamento logístico”, que “otimizará os espaços ociosos”, visando atingir “oferta de um ensino de qualidade” e, no blog do MRP-Maranhão, que a filha do Sarney, a governadora Roseana, fechará o Centro de Ensino Médio César Aboud (Monte Castelo) para no lugar deste construir uma cadeia. Em Caxias, comentam-se no mercado central, nas praças e nos barzinhos, os prováveis estragos desse “vendaval” da SEDUC, desmontando escolas, redistribuindo professores, servidores e alunos, seguindo o velho “cuidado” de não deixar os “indesejados” juntos, tramando greves.

Como quase todos no Maranhão atual sabem, Roseana não faz nada sem que o seu pai tenha orientado. Por isso, reflito sobre o que pode estar acontecendo para que o velho Sarney não se sinta constrangido em inverter aquela lição inspirada no liberal reformista francês? Poderia contentar-me em dizer, pura e simplesmente, que o jovem Sarney de 1969 vivia um provável arrebol, enquanto o velho oligarca Sarney de 2012 vive o seu inevitável ocaso político.

Ocorre que a realidade é bem mais complexa para caber apenas nesta explicação. O Brasil e, mais ainda, o estado governado pelo jovem Sarney em 1969, eram majoritariamente rurais e, naquele contexto, a educação se apresentava como uma demanda pública que, resolvida, não só ajudaria o país e o estado do Maranhão a se modernizarem, como poderia contribuir com invenções de imagens públicas positivas do então presidente da república general Costa e Silva (1899-1969) e de Sarney, jovem governador, preocupados com o desenvolvimento humano dos seus concidadãos. Caso essa educação fosse bem orientada pela “moral e civismo” no currículo do estado, o “benfeitor” Sarney passaria a equivaler ao próprio liberal francês.

Tudo mudou no período de 1969 a 2012. Muita coisa, para melhor. Outras, nem tanto. Na educação do Maranhão dos Sarneys, sucessivos fracassos são apontados pelos órgãos oficiais de medição desse indicador social. Ademais, nenhuma educação, hoje, no estado, por mais “forte” que venha a ser considerada, seria capaz de reinventar uma boa imagem para os Sarneys. Assim, criar escola ou criar cadeia não faz nenhuma diferença para o velho oligarca Sarney.

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¹ Professor de História, Caxias-MA., membro do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias-IHGC e acadêmico de Direito.

Francinaldo Morais
Enviado por Francinaldo Morais em 07/11/2013
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