Sem borrar a maquiagem (texto ao blog Pílulas do Poder)

As reviravoltas na política são comuns. Aliás, comuns geraria ojeriza se pensássemos nos tempos de outrora, quando os senhores de cartola preta e fraque, quando não com aquelas perucas de cabelos enrolados, manobravam os poderem ao seu bel prazer. As mais lembradas, recentes, nos jogam a 1950, janeiro, quando o então pré-candidato a presidente Getúlio Vargas pediu o encarecido apoio ao comunista Luís Carlos Prestes. Este aceitou botar a mão no ombro do líder do país entre 1930 e 1945. Prestes não se esqueceu, porém, da surra mental que levou anos antes. Getúlio havia enviado Olga Benário à sala nazista alguns anos antes. A moça morrera na câmara de gás. Depois desta atitude de Prestes, em apoiar o carrasco no cadafalso, nada mais pode surpreender. Claro, lembremos do casal Hitler-Stálin nos anos 1930 e 1940 e o pacto de não-agressão. Não durou muito, como se sabe. Águas passadas. O mundo quase empoeirou.

Há dias, o Brasil discute o ‘Plano C’. A união inesperada entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco Eduardo Campos desmontou qualquer perspectiva acerca das eleições de outubro próximo. Marina viu o sonho da Rede virar anzol torto e em poucas horas optou por seguir a trilha sonora do frevo. Pegou seu guarda-chuva colorido e saiu a bailar com os olhos azuis da família Arraes. Deixou órfãs siglas como o PPS, PEN e PDT. Estas, agora, nadam para recuperar a planície. O PPS de Roberto Freire, por exemplo, cogita lançar a jornalista Soninha Francine ao planalto. Voo cego, diga-se. Candidatura para apenas encher barriga, ou linguiça, como queiram. A união Marina-Eduardo, não. Seja quem for o (a) cabeça de chapa – e tudo indica ser o pernambucano – o PSB será, de fato, uma força tão ou mais competente que a do PT, com Dilma Rousseff, e PSDB, com Aécio Neves. Quem ganha neste baile?

Pesquisas de intenção de voto só refletem a vontade do eleitor a partir de sete, seis meses antes do pleito. Antes, é pura magia. Os candidatos só serão definidos entre março e maio e até lá especular é danar as páginas de opinião. Hoje uma análise mais criteriosa soaria melhor. As manifestações de junho deixaram Marina com quase 30% das preferências. Passados quatro meses, os números são outros. Mas quem se importa? A ex-petista e ex-verdista quer ser a diferença. A sonhática, como ela se intitula, seja manejar as palavras e tem boas ideias. Ao se acoplar ao PSB, pretende ‘arruinar’ (nas palavras de Marina, a terceira via) as metas governistas e peessedebistas. Prioriza a ecologia, a não-reeleição e uma menor quantidade de ministérios. Tudo isto bate com Campos, o dos olhos azuis. O político aspira mandatos de cinco anos, quer erradicar as ‘raposas velhas’ que atrapalham a política verde e amarela. Que tal?

Em recente entrevista ao ‘Programa do Jô’, e ela tem dito isto a torto e a direito, ao ser perguntada sobre como governaria se eleita presidente, sobre lidar com os demais partidos, Marina comentou: ‘Vamos pegar os melhores do PT, do PSDB, do PCdoB, enfim, fazer essa alianças com os melhores.’ Na teoria, nota dez. Com louvor. Na prática, dilemas à vista. Lembremos o caso Erundina (ex-PT, hoje correligionária da ex-senadora, no PSB). Quando assumiu o mandato deixado por Fernando Collor, no fim de 1992, Itamar Franco convidou a então prefeita de São Paulo, recém-saída do posto, para comandar uma das pastas do Planalto. Ela topou, o partido, não. Resultado: foi expulsa e ingressou nos socialistas. Caso Marina (ou Campos) for eleita e convide, por exemplo, um petista e um tucano para ficarem à frente de ministérios, as siglas aceitarão? Como ficará a Câmara de Deputados e o Senado? As negociações precisarão ser feitas.

É provável acontecer pela primeira vez desde 1989 a ausência de candidatos nascidos no Estado de São Paulo. E daí? A república Café-com-Leite terminou há mais de 80 anos e, ademais, Aécio está aí para satisfazer o ego do Sudeste. Evidentemente, comparar o ‘Plano C’ à união de Nazismo-Stalinismo é perda de tempo, e o mesmo para o casamento Prestes-Vargas. Marina, que detém um carisma impactante, se junta ao presidente pessebista, também provocador de sorrisos de admiração (é o governador mais bem avaliado do Brasil), e tenta não se pintar, como na música de Caymmi. Borrar a maquiagem a esta altura seria desgastante e angustiante. Campos ganhou seu presente de Natal antecipado em 2013. Marina aspira, em 2014, ganhar o seu de Dia das Crianças antes da hora. Laços à parte, finalmente depois de 25 anos (quando de Collor, Lula e Brizola) o país olhará três candidatos poderosos e com cacife. É aguardar as urnas.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/11/2013
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