'Esperando Gogot' (texto ao blog Pílulas do Poder)

A gente adora correr riscos. Eike Batista que o diga. Tempos atrás desejava como o coiote atrás da comida ser o homem mais rico do planeta. Juntou dinheiro para isto. Suas empresas se se transformaram em império, sua vida se tornou alvo dos flashes dos paparazzi, e, por consequência, a sua privacidade ruiu, como se lhe tirassem a carta de baixo do castelo montado com tanta galhardia. Mas, espere aí. A que custos isto foi feito? Tratava-se de um reinado de lata ou de louros escondidos? O jornalista Élio Gaspari detalha em coluna no jornal Folha de São Paulo de domingo, 3/11, as peripécias de um homem que, da noite para o dia, se viu falido, mesmo com os bolsos recheados de dólares e euros. Eike tem se mostrado mais preocupado – bem mais, diria – com o seu penteado grisalho, os implantes capilares, do que com as ações, que dia a dia, desvalorizam-se em porcentagens absurdas. A revista piauí, anos atrás, até avacalhou, no bom sentido, com o empresário, com uma reportagem acerca dos fios de cabelo dele. Porém, a vida de Eike não tem sido tão opulenta assim. O filho Thor se envolveu num acidente e matou uma pessoa. O filho é mais importante se o compararmos a papéis das empresas ‘X’. Como lidar com isto, já que indenizações e multas não são problemas a ambos? Eike descasou de Luma de Oliveira, a mulher mais cobiçada dos anos 80 e 90 no Brasil. Ela chegou a usar uma coleira com o nome do então marido na Sapucaí. Blasfêmias à parte, haja coragem a tanto.

Agora, o caso Silvio Santos. Recentemente, figurou na lista da revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo (posição 1.107 – US$ 1.3 bi). Engraçado. Cerca de um ano antes disto ocorrer, o banco de sua marca, o Panamericano, foi ao buraco depois de más administrações. Um concorrente o comprou, as dívidas foram sanadas, Silvio deu aquela entrevista água com açúcar e não se falou mais no assunto. Antes, em 2010, segundo o apresentador, o dono do SBT foi a Brasília se encontrar com Lula. Aos jornalistas, confidenciou: pediu dinheiro ao presidente. Calma! Não ao banco, mas ao Teleton, a campanha em favor à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Queria R$ 13 mil (R$ 1 mil por ano, em comemoração aos 13 anos do programa) e um depoimento do petista. Falou com Lula e com vários admiradores dele, Silvio, pelos corredores. Inclusive, chegou até a levar ao político um trecho do ‘Show de Calouros’ de 1989, no qual Lula é arguido pelos jurados, como Pedro de Lara e Sérgio Mallandro. Estranho. Talvez Silvio tenha ido à capital federal para, pessoalmente, pedir socorro ao Panamericano e aos repórteres mentiu e falou do Teleton. Ninguém questionou o fato porque o animador é uma das raras Celebridades com ‘C’ maiúsculo no Brasil, até então idôneo e honesto. As denúncias da década passada na TV Bandeirantes sobre irregularidades na TeleSena, o título de capitalização do SBT, minguaram, fizeram água. Silvio Santos, hoje em dia, segue firme com seu sorriso estampado a quem quiser ver. Prestes a completar 83 anos (em 12/12), quer se aposentar no fim de 2014.

‘Pra quê dinheiro’, perguntaria Martinho da Vila em seu samba, ‘se ela não me dá bola?’. Paulinho da Viola já deu a dica de que ‘dinheiro na mão é vendaval’. O Brasil inaugurou esses dias a ‘nova classe C’. Multiplicou-se demais, por exemplo, a venda de carros com a ausência do IPI, o Imposto dos Produtos, e também a venda de eletrodomésticos, como geladeiras, fogões, televisores modernos e etc. A bolha de forma. Vendem-se atualmente moradias como se fosse pão. Apartamentos e casas bateram recordes de vendagem e agora sobram os pagamentos. Vocês devem se lembrar de 2008 e a hecatombe causada pelo banco Lehman Brothers. A crise imobiliária dos Estados Unidos avançou a níveis enormes. Economistas compararam o problemão à Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque de 1929. Assim como nos anos 20, há cinco anos pessoas chegaram a cometer suicídio, preocupadas que estavam com a falência à porta. Pode-se fazer paralelo entre 1929 e 2008? Sim, em determinado ponto, caso considerarmos as arrogâncias nesta dupla de casos. Teorizar sobre o assunto é covardia, porque ninguém lida com dinheiro e aspira perder investimentos. Lembro de duas marcas bastante conhecidas por aqui – Mesbla e Mappin – que há mais de dez anos vagam por aí (desde 1999, quando faliram – eram controladas pelo empresário Ricardo Mansur), fantasmas de suas próprias incompetências (dizem os entendidos que ambas poderão voltar ao mercado em breve, ou já voltaram: a Mesbla tem já um site de compras). Tradições devem ser mantidas e assim mais opções surgem para nós todos.

Outra questão: até que ponto deve-se usar dinheiro público para salvar determinada empreitada? Ou se dinheiro público deve ser usado de fato em algum instante, em detrimento de se fazerem obras ao povo. Notem: cubro-me com o manto de Poliana e ponho a máscara de Eremildo, o Idiota, o personagem de Élio Gaspari. Esta inocência vale se formos dotados de paciência. Muita paciência. Cito as construções dos estádios para a Copa do Mundo de 2014. Faltam somente alguns meses para o início do torneio e as denúncias de mau uso da grana pública se acumulam. Os Estados de São Paulo, Brasília, Cuiabá, Amazonas, Bahia etc sofrem com péssimas mobilidades urbanas, enquanto foram erguidos monumentos para se praticar o esporte mais popular do planeta (é bom lembrar que campeonatos disputados no Amazonas, Brasília e Cuiabá, por exemplo, arrecadam menos de mil pagantes por jogo – média anual). A Copa durará 30 dias e depois dela o falado ‘legado’ estará à disposição da população? Onde estarão parques, calçadas, pista de ciclismo, aeroportos reformados, rodoviárias dignas, ruas planas etc? Creio estarmos ‘Esperando Godot’. A esperança é a última que morre, mas neste ponto específico do Mundial do próximo ano, mataram-na a tiros, a queima-roupa, sem dó nem piedade. Os governos – estaduais e federal – liberam milhões, bilhões, a verdadeiros ‘campos de ouro’. Querem em troca prestígio disfarçado de voto: 2014 tem eleições para deputado federal e estadual, senador, governador e presidente. Já pensaram o que uma conquista do Brasil faria com o pleito? Bom, enquanto eu reflito com meus botões, como diria Mino Carta, sigo aqui na minha sala prestando atenção e anotando números da TeleSena.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 13/11/2013
Reeditado em 13/11/2013
Código do texto: T4568825
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