FALTA MUITO MAIS

“Dinheiro tem; falta gestão”

Camilo Capiberibe, atual governador do Amapá em campanha eleitoral/2010.

Independentemente de qualquer divergência político-ideológica, numa coisa concordo com o, à época, candidato a governador do Amapá Carlos Camilo Góes Capiberibe: “dinheiro tem; falta gestão”.

Atualizando a fala do então candidato, acrescento: dinheiro tem; porém, continua faltando não apenas gestão, mas...

FALTA PLANEJAMENTO: O Amapá jamais possuiu um Plano de Estado, quiçá de Governo. Pelo contrário, sempre teve, malfadadamente, planos de legendas. Os partidos que têm governado o Amapá até o presente, incluindo o atual PSB, sempre apresentaram projeto de poder, não de governo. Se isto não é fato, que prove o contrário os atuais gestores e seus acólitos.

Que respondam estes: por que a Segurança e a Saúde estão falidas? Onde está o Plano Estadual de Educação? Por que a descentralização do ensino está estagnada há 25 anos? Quais são as alternativas para sairmos da famigerada economia do contracheque? A população economicamente ativa do Amapá se subdivide em dois grupos apenas: os que trabalham no Governo (em qualquer das esferas) e os que trabalham para o Governo, ponto. Isso é ridículo e inaceitável no melhor momento da história econômica do país.

FALTA TRANSPARÊNCIA: Essa não é uma exclusividade do PSB-AP nem do Governo Camilo, mas do Brasil. Quando o secretário de Administração da PMLJ vai à rádio para justificar atrasos no pagamento de servidores da Educação alegando que a Prefeitura já comprometeu os 60% do FUNDEB com folha de pagamento, esquece de dizer que 60% é o mínimo que determina a lei. E quem investe apenas o mínimo em Educação, não pode esperar nada mais que o mínimo no restante. Enquanto o investimento do Brasil em Educação for o mínimo, não há como esperar outras coisas senão o mínimo em desenvolvimento, o mínimo em justiça social, o mínimo em honestidade, o mínimo em integridade, o mínimo em cidadania. Por outro lado, o Governo Federal alardeia os milhões de brasileiros que saíram da miséria, mas omite que 40% das riquezas do país vão para as mãos de banqueiros como pagamento de juros da dívida pública, dívida esta sobre a qual o Governo morre, se necessário, mas não aceita fazer uma auditoria independente.

FALTA CREDIBILIDADE E INDEPENDÊNCIA NO JUDICIÁRIO: No Brasil é impossível saber quem é Poder Judiciário e quem é Executivo. Aliás, a prática imoral (mas constitucional, é bom que se diga) de indicação de integrantes do Judiciário pelo chefe do Executivo é outra cultura que só serve para envergonhar nosso país, aumentar o conluio entre esses poderes e tornar o Judiciário mais distante do controle popular, mais soberbo, mais tendencioso, mais aristocrático, arrogante e igualmente opressor. Se não é assim, por que, então, de Norte a Sul do país, professores têm que viver em constantes e humilhantes peregrinações para que governantes paguem algo que, há muito, já está consignado em lei? Ora bolas, se o Judiciário tivesse o mínimo de apreço e sensibilidade com a causa não dos professores, mas da Educação brasileira em si, por que teriam estes que passar por essa via-crúcis mesmo a lei já tendo sido ratificada pela mais alta corte deste mesmo poder? Por que, então, as greves são ilegais?

RESUMO DA ÓPERA: Enquanto isso, o Supremo determina que o piso deve ser pago; os governadores e prefeitos dizem que não pagam; os professores reivindicam e as comarcas e tribunais dizem que estes últimos são os que estão errados. Sinceramente, não sei se é pra chorar (de decepção) ou pra rir (de tanta bizarrice em um país só).