Arouca, o simpático (publicado originalmente em 4/2/2014)

Era chamado de ‘Arouquinha’ porque o irmão mais velho, José Cristóvão (1925-2000) era, é claro, o ‘Aroucão’. Havia sido prefeito (1/1/64-1/1/69) e vereador. Figura conhecida em Jacareí. Mas o mano (desse modo se tratavam) Osvaldo aos poucos conquistou seu espaço. Despontou a valer nos anos 1980 quando aceitou o cargo de secretário de Finanças do governo do então prefeito (1983-1989) Thelmo Cruz (1924-2011). Ganhou notoriedade. Arouquinha, calvo desde os primeiros anos de adulto, se sobressaía pela competência. Então, nada pensava, pelo menos ele dizia isto, sobre seguir a carreira do irmão e ser político. Advogado, economista e administrador de empresas, Osvaldo estava satisfeito com o rumo que o destino lhe traçara? O homem, o simpático, porém, criou outros planos.

Todas as pessoas que entrevistei que viveram a política jacareiense desde as décadas de 1950 e 60 eram unânimes quando eu perguntava sobre qual havia sido o pleito impactante do município, o de emoção forte: 1988, sem dúvida alguma. Aquela eleição surpreendeu até os mais incrédulos, os descrentes de urna avoada. Demésio Mota seria o prefeito e ponto final. Ocuparia a principal cadeira, ao lado de Mário Ney Daher, o vice-prefeito. Campanha avassaladora. O PMDB detinha a chamada ‘máquina’ e os comícios eram um espetáculo recheado de fogos de artifício. Se desse qualquer zebra, o povo soberano também saberia por quem seria governado: Delma Assad, do extinto PDS (hoje PP), iria se consagrar a primeira prefeita, Cláudio França entraria como o vice. Nada além disto. Demésio era ‘apadrinhado’ por Thelmo, Delma por Malek, seu marido (1939-1993). Mas na última semana de ajuntamento de voto, o burburinho azucrinou a população. Começaram a falar de Arouca, o Osvaldo.

Filiado ao PDT e com o mano José ao lado, candidato a vereador, caixotes eram seu púlpito, e alguns mínimos e parcos ouvintes prestavam atenção aos falatórios. Aquilo nem podia ser chamado de comício. Aldo Lopes da Costa, ex-vereador, era o candidato a vice. Tinha 70 anos. Osvaldo, 49. As urnas desvendaram a pérola da vitória. O pedetista, com pouco mais de 31 mil votos, levou. Demésio amargou a segunda posição. Delma foi a terceira. Há várias teses acerca do que provocou a alteração do placar a favor de Arouca – o Osvaldo. Em 1º de janeiro de 1989, tomou posse. E o boa-praça levou Aroucão à presidência da Câmara de Vereadores. Estava completo. Os Aroucas ‘dominaram’ Jacareí.

Convivi com Osvaldo Arouca durante os seus quatro anos como vereador (1/ 1 / 2009 – 1 /1 / 2013) pelo PR. Em 100% das vezes foi afável, muito bem educado, um ‘gentleman’ no bom sentido da palavra. O lorde inglês nascera em Paraibuna, a 24 de junho de 1939. Quando adentrava a quaisquer lugares, seu primeiro movimento era estender a mão e cumprimentar os presentes. Todos. No verão vestia camisa de mangas curtas e gravata. No inverno, os casacos elegantes. Político à moda antiga, a tribuna era seu segundo lar. O mandato no Palácio da Liberdade não foi dos mais frutíferos, mas era ótimo vê-lo ali, combativo, aos gestos de mãos, as paradas nas frases impactantes. Uma de suas mais usuais expressões o fazia relembrar dos tempos idos: ‘Se eu fosse o prefeito...’, costuma dizer. Assisti a todas as Sessões Ordinárias e Solenes que ele participou. Impressionava-me com a sua verve. Como me lembrava de quase nada do período em que foi prefeito, me satisfiz com o vereador de oposição.

Em 2012, se afastou dos trabalhos. Descobrira um câncer. Ao retornar à Câmara, os quilos a menos deram-no outro aspecto. Logo recuperou-se. O porte físico voltou ao normal. Osvaldo Arouca chamava-me de ‘menino’. No quadriênio do mandato entrevistei-o, para a TV Câmara Jacareí, várias vezes. Solícito, disponível sempre que a agenda concordava, nunca disse ‘não’ aos nossos pedidos. E chegava na hora, pontual e galanteador com as mulheres. No fim de 2013 o estado de saúde piorou e o tal câncer voltou com força fatal. Agora, Jacareí tem somente dois ex-prefeitos vivos: o historiador Benedicto Sérgio Lencioni (1977-83 e 1997-2001) e o deputado Marco Aurélio de Souza (2001-2009).

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/02/2014
Reeditado em 04/02/2014
Código do texto: T4677445
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