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REVOLUÇÃO OU GOLPE ?

 

O respeito ao contexto da época dos acontecimentos é uma máxima, na véspera dos 50 anos do movimento de 1964 seria interessante registrar alguns detalhes para o bem da história.

Em primeiro lugar, é preciso separar e deixar bem claro a enorme diferença entre o evento “revolução militar” e “ditadura militar”. Cada um é cada um, independentes entre si.

O Brasil do pré-64 era um horror : bagunça generaliza, desordem, desrespeito, vandalismo, greves diárias sem sentido, desobediência civil e militar, roubos e assassinatos políticos. Enfim, imperava o caos e o povo não aguentava mais tantos absurdos e só pagar a conta.

Havia duas possibilidades : a) caminhar para um estado comunista, como era “moda” na época, no expansionismo latino americano promovido por Guevara e Castro; b) caminhar para um estado de direita, como queria a maioria do povo, os militares e os empresários. Lembre-se de que os militares saíram de Minas Gerais, um estado tradicionalmente conservador, mas decisivo.

A famosa “marcha da família com Deus pela liberdade” ocorreu no Rio de Janeiro e levou às ruas mais de 100 mil pessoas. Hoje, 100 mil pessoas não é nada, para um país com mais de 200 milhões de habitantes, mas em 1964 era um número expressivo e balançou todas as estruturas em movimento, tanto de direita quanto de esquerda. Foi o estopim que faltava para a decisão final.

Lembro que depois do famoso discurso de João Goulart, na Central do Brasil, em 13/03/64, circulando pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro e o povo nas janelas, gritava, xingava e jogava ovos e outros bichos nos partidários de Jango que desfilavam pelas avenidas.

Aliás, diga-se de passagem João Goulart foi um presidente inexpressivo, indeciso, dúbio, sem firmeza e sem pulso. Quando Jânio Quadros renunciou, Jango estava na China e não voltou de imediato, como seria “dever” de um vice-presidente, ficou com receio e só voltou depois que Tancredo Neves “costurou” com os políticos o seu retorno, mas com o aval do Marechal Lott.

 

O objetivo dos militares, na concepção da “revolução”, era resgatar a ordem e pacificar o país, depois entregar a casa arrumada aos políticos, novamente. Afinal de contas, eles tinham o “aval” da população, negar isso é desrespeitar a história. O problema, meu caro, é que quando se chega ao poder e com dinheiro nas mãos (principalmente dinheiro do povo) ninguém quer largar o osso. Compromissos são desfeitos e promessas apagadas. Esta era a pretensão do Marechal Castello Branco que liderou o movimento, mas depois foi traído pelas tradicionais forças ocultas que sempre agem no Brasil protegendo interesses e dando uma banana para o povo.

Não podemos esquecer de que o governo Americano foi o grande promotor e patrocinador do movimento de 1964 e não só no Brasil. Também na Argentina, no Chile e no Uruguai. No Chile a tragédia foi muito maior : um desastre.

Quem viveu naquela época, pode fazer um pequeno exercício mental. Imaginemos que tudo fosse ao contrário : que os comunistas/socialistas fizessem a “revolução” e tomassem o poder. Como seria o Brasil com essa nova configuração, nos 30 anos seguintes ? Certamente, milhares de pessoas da “direita” passariam para a clandestinidade e a luta armada seria um fato. Militares insatisfeitos desertariam e constituiriam movimentos e grupos para lutar pela “liberdade” do povo e do país.

Fica no ar a seguinte pergunta : se a esquerda ganhasse, os novos senhores do poder seriam “generosos e misericordiosos” com os terroristas ou agiriam da mesma forma como agiram Stalin e Fidel Castro com os inimigos do regime ? Entendeu ou precisa desenhar ?

 

 

Leandro Cunha