Os BRICS e a Conjuntura Mundial - 2ª Parte

Existem forças no mundo que definem o destino da humanidade. E essas forças, com ênfase após a Revolução Industrial e a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, têm se situado no âmbito da Europa e da América do Norte.

Em contrapartida, durante a “Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe” (CALC), realizada na Riviera Maya (México) em fevereiro de 2010, foi criada a “Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos” (CELAC), com o objetivo de “constituir um novo mecanismo de concertação política e integração, envolvendo os trinta e três países da América do Sul, América Central e Caribe”.

Os BRICS, assim como a CELAC, constituem-se numa outra força capaz de estabelecer o equilíbrio no controle do poder econômico mundial. Respeitados os níveis de crescimento atuais, principalmente, da China e dos EUA, em 10 anos provavelmente os BRICS terão 60% do PIB mundial, deslocando o maior poderio econômico mundial da esfera dos EUA.

Na verdade o polo econômico mundial já está em franco deslocamento para a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul. EUA e Europa apresentam-se em queda.

A China, vetor de relevância entre os BRICS, criou uma espécie de BNDES a partir de 1994. O nosso data de 1960. O “BNDES” chinês tem 34 agências na China e quatro no exterior, sendo uma delas no Brasil. Os chineses criaram ainda um banco asiático integrado por 22 países da região, com capitais soberanos do Oriente Médio desejando participar da instituição.

O mundo sempre em transformação.

Há 5000 anos tínhamos na América Latina civilizações adiantadíssimas, dotadas de apreciável desenvolvimento científico. Como a peruana, cujo uso da queda d’água é ainda hoje objeto de estudos por parte da NASA. Tal como o método de construção antissísmica dos incas que é hoje estudado pelo Japão.

Como prova de que as grandes estruturas geopolíticas são milenares, a China procura reeditar hoje a sua “rota da seda” do Século XVI, que antes era marítima, através dos modais rodoviário e ferroviário. Desenvolve no momento projetos para a implantação do trem-bala de Pequim a Bagdá, num percurso de mais de 8000 km. Para o transporte, inclusive, de petróleo! É interessante notar que a tecnologia do trem-bala foi dominada pelos chineses há 10 anos.

A nova estrutura financeira mundial sofre a necessária influência do poder demográfico:

China... 1,400 bilhão de habitantes

Índia... 1,2 bilhão de habitantes

África... 1,0 bilhão de habitantes

América Latina... 600 milhões de habitantes

Estados Unidos... 250 milhões

A presença do contingente humano sempre em ascensão impõe as grandes transformações que hoje vivenciamos. O que justifica as palavras de Fidel Castro ao dizer que “nós nunca fizemos nada que não estivesse antes na consciência do povo cubano”. Ou será que o cidadão cubano comum podia aplaudir o governo autoritário, terrorista, corrupto e entreguista de Fulgêncio Batista?

Cogita-se que a Alemanha e o Caribe, por muito tempo sob o domínio americano, possam integrar os BRICS. O que não é impossível de se conceber, porque além da guerra convencional, da nuclear, da bacteriológica e da midiática, trava-se em nossos dias a batalha das ideias, a guerra intelectual.

Existe no momento uma guerra intelectual contra o pensamento neoliberal, que prioriza o individual, deixando o poder ao sabor das grandes corporações. Provocando crises de desemprego e de desabastecimento em países da Europa e o próprio declínio dos níveis de crescimento observados nos EUA.

Instituições como FMI, Banco Mundial, BIRD, ALCA e todos os Tratados de Livre Comércio firmados com os EUA, todas introdutórias da conduta neoliberal, começam a ser objeto de críticas contundentes. Por serem as responsáveis pelo declínio econômico-financeiro de importantes países europeus e até mesmo dos EUA.

O lítio é um “metal macio, elemento sólido, porém leve, empregado especialmente na produção de ligas metálicas, baterias elétricas e no tratamento de transtorno bipolar”. A maior reserva de lítio do mundo está localizada na Bolívia.

O nióbio, “não comercializado até o século XX, é largamente empregado nas ligas, em especial na produção de aços especiais que são utilizados na estrutura física dos gasodutos”. “Existem poucas minas de extração economicamente viável de nióbio no mundo, sendo o Brasil o maior produtor mundial de nióbio e ferronióbio, uma liga de nióbio e ferro”.

Essas duas novas matérias primas, encontradas em abundância na América do Sul (Bolívia e Brasil), praticamente inexistem nos EUA. Mas no que corresponde às matérias primas tradicionais, nós da América Latina também somos os principais fornecedores.

O que teria, por exemplo, os EUA para oferecer ao Caribe? Então é justo que o Caribe se uma aos BRICS.

Por outro lado, uma liderança indígena levar 500 anos para chegar ao poder num país da América do Sul é algo sem precedentes. Que deveria ser intensamente comemorado. E não ridicularizado por setores mais à direita adeptos de um secular conservadorismo.

(fonte: anotações da palestra do Prof. Theotônio dos Santos na ABI, 11/08/2014)

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 12/08/2014
Reeditado em 13/08/2014
Código do texto: T4919567
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.