Estamos Cansados de Saber

Uma coisa é defender a democracia. Outra bem diferente é defender a implantação de um regime militar, confundindo-o com o estabelecimento da democracia.

O ato contra o Governo em São Paulo na tarde de ontem reveste-se, portanto, de flagrante oportunismo, reconhecido até mesmo pelo músico Lobão, ferrenho crítico do governo Dilma. “Cilada infame! Eu chego no Masp e a primeira coisa que vejo é um mega-caminhão com um cartaz com os dizeres ‘Intervenção Militar Já!’ Palhaçada!”, foi o que Lobão publicou “em sua página no microblog Twitter”.

Não devemos aceitar qualquer tentativa do governo no sentido de minimizar os escândalos associados à Petrobrás. Devemos exigir a identificação e punição de todos os envolvidos. “Doa a quem doer”, como disse o Ministro da Justiça, esperando que ele cumpra o que disse. Fazendo jus à pasta que ocupa. E se ele não cumprir o que disse, que dê lugar a outro que possa fazê-lo.

Mas não devemos nos esquecer de que as denúncias estão sendo publicadas todos os dias nos jornais, ajudando-os a vender seus exemplares, o que é próprio de uma democracia. O que não se conseguiria com uma intervenção militar, como estamos cansados de saber. Onde tudo é feito na calada da noite. E deve permanecer escondido. Como foram os casos de torturas, desaparecimentos e assassinatos que só depois de vinte anos começaram a ser revelados.

E também não devemos nos esquecer de que o governo que aí está, queiramos ou não – e a metade da população não quis – foi democraticamente eleito. E que, se for o caso, deverá ser afastado do poder. Mas de forma igualmente democrática. E não removido por meio de um golpe militar que, além de não acabar com escândalo algum, porque eles permanecerão escondidos, nada terá de democrático. O que também já sabemos.

Rio, 16/11/2014

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 16/11/2014
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