Missão Secreta

Minha primeira profissão comecei a exercê-la oficialmente no dia primeiro de abril de 1962. Não havia aí nenhuma mentira. Foi a data da portaria que me nomeava para o serviço público. Antes já vinha exercendo na condição de “praticante”, que mais tarde se diria “aprendiz”, assim como agora é “estagiário”. Antes de completar dois anos, eis que adentro no regime da ditadura militar, após a Revolução de 1964. Na minha carteira profissional de radiotelegrafista constavam os dizeres: “Pelo presente certificado, o Governo impõe ao seu portador a obrigação de guardar o sigilo das comunicações e de cumprir fielmente as determinações regulamentares em vigor e as da legislação radiotelegráfica internacional.” Por conseguinte, teria de seguir aquele lema de um jornalista pernambucano que, depois de alguns comentários em suas crônicas, concluía: “mas eu não tenho nada com isso, pois o meu lema é ver, ouvir e calar”.

Disciplinado que sempre fui, jamais traí os deveres impostos pela minha profissão, que a exerci durante 18 anos, até que o avanço tecnológico a extinguiu. Os mais jovens nem a conheceram. Apenas pela história das telecomunicações. Aos familiares e amigos, às vezes falo das minhas gafes profissionais. Como todos sabem, existia o SNI – Serviço Nacional de Informações –, cujo primeiro chefe foi o general João Batista Figueiredo, que mais tarde se tornou Presidente da República. Em nível regional, nas repartições do governo, havia a ASI, Assessoria de Serviço de Informações, uma espécie de subsidiária do SNI. Pelas mensagens que eu recebia ou transmitia tomava conhecimento de determinados assuntos, dos quais não podia falar. Mas, involuntariamente, levado pelo inconsciente, achei de cumprimentar uma pessoa e chamá-la pelo nome. Eis que ele se dirige ao meu superior hierárquico para fazer-lhe uma reclamação. “Como é que eu estou aqui em missão secreta e aquele rapazinho me cumprimenta e me chama pelo nome?”

E o meu chefe amenizou a situação: “não tem problema, tudo aqui ele sabe ates de mim, é o radiotelegrafista”. Felizmente fui perdoado pela gafe.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 03/01/2015
Reeditado em 03/01/2015
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