Nosso Señor?

Se se fizesse uma pesquisa neste Brasil dos últimos quarenta e tantos anos para a aferição da popularidade de Nosso Señor - e vai ver que muitas já têm sido feitas nesse sentido - é possível que Cristo e Sílvio empatassem.

Muita gente até chega a confundir o Pai do Céu com a imagem que Sílvio passava, e quiçá ainda passe, à legião incontável de admiradores e em menor número, mas em muito maior grau de animação, "... as ditosas e dotadas colegas de trabalho".

Ir à missa aos domingos, a partir dos anos sessenta, deixou de ser um sacrifício, pois havia sempre a compensação de voltar pra casa e ver o Sílvio já à espera. No ínicio, naquelas telas acanhadas, em preto e branco, depois tintas com aqueles filtros de plástico que lhes davam uma coloração segundo a vontade do dono e, finalmente, a cores - todas as cores que via no seu dia a dia a própria íris de Dona Íris do multicolor ídolo das multidões de donas de casa e de quem quer que tivesse um par de nádegas pra se sentar à frente da telê num domingo que dispensava até o futebol.

Mas o que vinha de seu Baú é que era a felicidade completa - dos que estavam rigorosamente em dia com as prestações de seus carnets. Quanta gente sonhou e ganhou uma casa, abarrotada daqueles eletrodomésticos. Não saindo a sorte grande, entretanto, não havia que se esquentar, até saber bater um prego um prêmio podia dar, mesmo que só senhoras de uma incerta idade é que acabavam manifestando essa tardia vocação carpinteira.

E aquela galeria de respeitáveis jurados, quem não há de se lembrar, de uma Maravilha Elke a um circunspecto Fonzar, ou de um Fernandes de azeda cara, a um mais azedo Pedro de Lara?

Agora, mesmo com os cabelos impecavelmente da cor das asas da graúna, e pra lá dos oitenta, o homem anuncia outra destinação ao Baú, com tempo marcado, ele que tão preciso e tão rápido nos cálculos montou o seu império, levando tudo na piada até em momento sério.

E de pensar que, quisessem os ventos - ou as nuvens, como diria Magalhães, o Pinto - soprar pruma determinada direção em determinada época, esse homem poderia ter sido Presidente do Brasil. Tentação não lhe terá faltado, e um imenso baú nosso país teria virado.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 30/01/2015
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