OS BRIOCHES DA RAINHA

OS BRIOCHES DA RAINHA

O verbete brioche, nos dicionários aparece como uma espécie de pão ou bolo de massa leve, doce ou não, feito com farinha, água ou leite, levedura ou fermento, ovos e manteiga. É uma guloseima sofisticada da gastronomia francesa apropriada para a hora do chá ou do café da tarde.

Eu não gosto de políticos. Isto dentro dos meus critérios de julgamento de valor é um fato inconteste. Mesmo sem generalizar, acho-os, acompanhando o consenso da maioria nacional, interesseiros, oportunistas, insensíveis, sem visão sistêmica e- não raro – pouco comprometidos com a ética, a cidadania e o bom senso.

O fato é que entra ano e sai ano e as decisões políticas, a começar pelas coisas mais simples estão sempre emperradas, a espera de decisões rápidas e efetivas. A expectativa do povo geralmente esbarra na inépcia da classe política, que via-de-regra administra mal, fiscaliza pessimamente e legisla pior ainda. Eu não vou culpar a classe política pelas enchentes, como as que recentemente assolaram a Região Metropolitana de Porto Alegre. Não vou culpar exclusivamente. Pois aí surgem os fenômenos da natureza, os el ninho da vida, o relaxamento da população que provoca os entupimentos das bocas-de-lobo, etc. No entanto, a falta de fiscalização e punição quanto ao lixo nas ruas aponta para o laxismo dos políticos e administradores.

Na velha França do século XVIII, nos dias que antecederam a Revolução, a situação social do povo era insustentável e culminou com a queda da Bastilha. Desesperada, a massa foi ao palácio do rei protestar contra a inércia da monarquia. Desligada dos problemas, a rainha Maria Antonieta quis saber o porquê daquela manifestação. Um conselheiro informou: “O povo não tem pão, majestade!”. Do alto de suas tamancas reais a rainha perguntou: “Se eles não têm pão, por que não comem brioches?”. Essa insensibilidade foi um dos argumentos da acusação que a levaram à condenação na guilhotina.

Há dias, explorando o drama do povo daqui, com as casas invadidas pela lama, falta de água e de luz, uma repórter entrevistou um político sobre a situação. O homem, secretário de sei-lá-o-que, disse que as coisas estavam evoluindo, pois o tempo parecia que ia melhorar, e que as donas de casa poderiam aproveitar a estiagem para lavar as roupas da família. Foi quando a jornalista questionou o aspone: “Mas como vão lavar roupa se não tem água”.

Aí eu me lembrei de Maria Antonieta. Por uma falta de sensibilidade desse jaez ela acabou perdendo a cabeça...