Apenas, somente apenas, “caras” pintadas?

Obs: publicado no blog Polymath Sirius_ASociety. Data: 09 de março de 2015.

Apenas, somente apenas, “caras” pintadas?

Escrito por Álvaro Vinicius de Souza Silva

Uma geração tenta se diferenciar da outra, mas o “novo estilo” mantém os mesmos vícios da anterior: agir pelo que é benquisto quanto à identificação dos problemas, pois, nesse caso, o benquisto é o efeito aprazível do mediano, do que é comum e acessível, do que é facilmente ajustável e bem recebido no inquirir. Afinal, o que estimula o compartilhamento do mesmo caráter reativo aos problemas, se não a sensação de segurança proporcionada pelo modo de analisar e agir conforme os “coletivos” ou o “coletivo em geral”, como se a histeria ou a aparente razão de cada grupo fosse o substituto direto da capacidade de avaliar se uma explicação é “verdadeira” ou “falsa”, "correta" ou "errada", e se sua correspondente ação mobilizadora viabilizasse uma inequívoca solução? Refiro-me a grupos politicamente organizados ou não, que normalmente cifram explicações ou opiniões a partir de uma condição de atributo emocional a quem os teleguia a agir pelo espírito de massa, com base em alguma referência partidária, ideológica ou pela própria ignorância. Não sou contra nenhum movimento que se paute por melhorar a situação do país ou lute contra um grupo criminoso que se instalou no Poder. Aliás, ser contra ou ser a favor é uma exigência bocó, como se houvesse, nesse caso, um acordo intrínseco à realidade da crise, na qual se tornaria proibida, ao menos de modo implícita, a ausência de posição. Muitas vezes, essa “exigência” subordina a pertinência de qualquer argumento ao critério de escolher entre uma ou outra posição política, o que dá formidável abertura ao ativismo de desqualificação perpetrado por grupos que são imbuídos por ideologias políticas. Nessa situação, costumam deformar os argumentos que asseveram os fundamentos de um complexo processo de análise conjuntural – bem mais amplo, “sério” e “científico” do que ser a "favor ou contra" -, já que põe em xeque o que defendem em relação a algum movimento.

Quando uma determinada fração dos problemas – principal exemplo: corrupção -, alçada ao principal mote do movimento, inaugura a estrita perspectiva de que, caso o protesto tenha êxito, haverá a solução definitiva para todos os problemas nacionais, uma relativa distância deve ser postulada como medida de precaução, mas não como forma de negar esses problemas na política brasileira, nem de propor a culpa exclusiva em governos pretéritos, como se o atual - o grand finale da política - eliminasse qualquer possibilidade de originar algum esquema de corrupção que poderia ser descoberto em uma investigação no futuro, especialmente na hipótese de um governo com novos agentes políticos - o pós grand finale.

Enfim, movimentos não são cartesianos, dissecados nitidamente; ao contrário disso, são imprevisíveis na sua dinâmica de ação, uma característica marcante da manifestação em grupo sob o calor das emoções, mesmo que tenha sua razão de ser. No entanto, não devem seguir a própria ingenuidade que os alimenta. Como em gerações passadas, é provável que alguns pintem as caras como os "caras pintadas" ou se comportem como "caras pintadas". Entre uma alternativa e outra, urge a seguinte indagação: " apenas, somente apenas, “caras” pintadas?". Se há ainda tanta corrupção após o "glorioso" feito dos "caras pintadas", só há uma resposta: eis a questão!