O espelho de Narciso

“Os homens apressam-se mais em retribuir um dano que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer”, falou Tácito, na Roma Clássica.

Acho até que há certo deleite com as agruras do outro. Um regozijo irônico diante da capitulação de um suposto desafeto.

Essa hipocrisia em escolher as palavras para dizer uma coisa, querendo dizer outra, está disseminada na nossa sociedade e causa um mal estar sem remédio.

Não estou a defender um ou outro. Estou somente a observar o caminhar dos acontecimentos na terra em que tudo é possível, até o inimaginável!

Cada qual tenta demonstrar que o mal e o inferno estão longe de si. Os erros, os enganos, as falcatruas são sempre do outro. Nunca seus.

Este embate que se inicia, permeado de orgulho, soberba, vaidade promete ser longo.

A supremacia do eu em detrimento do nós, com certeza, é a tônica. Há uma predominância diabólica em achar-se individuado – diferente dos demais, com direitos tirados sabe lá de onde!

Achar-se superior! Acima do bem e do mal.

Ah! Narciso está a bailar intensamente no lago espelhado!

Anna del Pueblo
Enviado por Anna del Pueblo em 03/12/2015
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