Lula, estrela que se apagou

Quando Lula foi eleito presidente, tinha-se a impressão de que, enfim, um representante das camadas populares alcançava o poder. Só que quem assumiu a presidência não foi o metalúrgico e sindicalista dos tempos do ABC paulista, mas sim um político arguto e dissimulado cuja consciência de classe já havia sido modificada.

A ruptura entre o governo petista e tucano, se houve, foi apenas no plano das ideias. De resto, prevaleceu o velho pragmatismo político. Para acalmar os mercados, Lula escreve sua “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual assume o compromisso de não alterar as estruturas macroeconômicas consolidadas na gestão anterior. A esquerda rangeu os dentes.

Antônio Palocci assume a Fazenda, e o ex-banqueiro e atual ministro, Henrique Meirelles, assume o Banco Central. Conservou-se o tripé econômico (câmbio flutuante, metas de inflação, superávit primário). O PT, portanto, abandonou os ideais socialistas pelos quais havia sido norteado até então.

De qualquer modo, Lula fez um bom governo. Por conta do volume de exportação, o Brasil alcançou recordes de superávits. A média do PIB foi de 4%. Os programas de transferências de renda reduziram a pobreza; houve também expansão dos empregos formais, das vagas nas universidades e ganhos reais do salário mínimo.

O Mensalão não abalou gravemente a popularidade do presidente, de sorte que foi reeleito em 2006. Parece que os brasileiros aceitaram o argumento segundo o qual o PT rouba do povo para ajudar o povo.

Em certo momento, o Brasil havia alcançado o posto de 6° maior economia do planeta, desbancando o Reino Unido.

Então, quando um horizonte de prosperidade dava as caras, o Lula comete o maior erro da sua vida política, a saber, a escolha de Dilma como sua sucessora. Resultado: desemprego, inflação altíssima, receitas deterioradas, Eduardo Cunha, Temer etc.

A partir daí os petistas passaram a se preocupar menos com as cadeias produtivas e mais com as cadeias "repressivas". Hoje, Lula não é nem sombra daquele líder carismático de outrora. Envolvido como está em escândalos de corrupção, a figura do “sapo barbudo” tornou-se inconveniente. Sua defesa frente às acusações é intragável - diria até patética.

E todo aquele clima de esperança, como diria Margareth Mitchell, o vento levou...