O Herói da República

Finalmente, o Eduardo Cunha foi cassado. Agora só falta prendê-lo. Certa vez escrevi que, quando isso ocorresse, o Brasil ganharia uns 50 pontos no Índice de Percepção da Corrupção. É sério. Defendo a tese de que se o Cunha está livre (com todas essas provas que têm contras ele), então tudo é permitido - roubo, assassinato etc. Seria o caso de soltarmos a Suzane Richthofen, o Beira Mar e outros. Afinal, o ex-deputado é tão perigoso quanto o ex-traficante. Talvez mais.

Ele falou que vai escrever um livro sobre o impeachment. Deve ser para aproveitar o tempo ocioso no xadrez. E lamentou ter sido abandonado pelos comparsas, salvo o Paulinho da Força; este, para fazer jus ao seu partido (SOLIDARIEDADE) e ao seu próprio nome, resolveu dar uma força pra ele. Em vão. Cunha está com sangue nos olhos, e, ao que tudo indica, vai contar tudo que sabe e - por se tratar de Lava Jato - até o que não sabe para conseguir uma delação premiada.

Quem parece nada contente com isso é o Temer, que recentemente disse se sentir qual “Carlos Magno e os cavaleiros da Távola Redonda” (sic). Mas, na verdade, está mais para Ali Babá (ou seria Maomé?) e os 40 ladrões. Bem, o ressentimento do seu ex-aliado está deixando-o com a pulga atrás da orelha.

Mas voltando ao Cunha, um tal de Carlos Marun (PMDB) resolveu sair em defesa do colega, e até escreveu um artigo emocionante na Folha de S.Paulo, onde elenca as contribuições de Cunha durante sua gestão. Só esqueceu de citar o projeto do Parlashopping. Ele terminou dizendo que Cunha fez muito pelo Brasil. Quase chorei.

Percebam vocês que a saída Cunha é algo positivo, porém, este Congresso, tal como está, é um escárnio. De modo que nada vai mudar. O Eduardo Cunha saiu do Câmara dos Deputados, mas seus asseclas permanecem lá. E se a maioria deles votou pela cassação do próprio "líder espiritual e político", foi por oportunismo eleitoral. Há em cada um desses deputados um Eduardo Cunha; isto é, um demônio interior do qual nem os mais probos estão livres.