CEARÁ-MIRIM: UMA NOVA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA?

No dia internacional da Paz, 1º de janeiro, um feriado comum entre os países, tivemos aqui no Brasil a posse das novas administrações municipais. Num tempo em que a política está tão corrompida pelos homens que a representa, que deterioram a pureza de sua finalidade, o bem estar coletivo a partir do respeito da dignidade humana, tive oportunidade de assistir os discursos de transmissão de cargo entre o prefeito que terminava o mandato e o prefeito eleito.

Notei, no longo discurso do primeiro a falar, o prefeito que entregava o cargo, a forte ligação com o nome de Deus e passou a elencar todas as dificuldades recebidas no começo da gestão, durante o mandato, até aquele momento. Sempre referia a participação de Deus em tudo que ocorrera com ele e agradecia aos seus auxiliares. Notei certo descompasso com o que existia de sentimentos nas ruas com o que era dito como forma de prestação de contas. Se tudo que estava sendo dito era verdade, a população da cidade cometera a maior injustiça ao não eleger o candidato que ele apresentou. Se existia mentira consciente em sua fala, que a justiça humana não conseguiu alcançar, então isso seria uma questão dele resolver com Deus, mesmo porque ele fez questão de colocar Deus como o aval de todo o tempo de sua administração.

O rápido discurso do prefeito eleito, foi o que mais me chamou a atenção. Parece que ele, como profissional liberal, como pessoa que se diz independente da politicagem que enodoa a atuação da verdadeira política, está disposto a colocar na sua administração frente à prefeitura os verdadeiros princípios políticos, dentro de uma inspiração pragmática, empresarial, capitalista, onde os lucros do trabalho individual promova a dignidade humana do trabalhador e assim fortaleça a coletividade ceará-mirinense.

Dois trechos do seu discurso deixou claro essas intenções: primeiro, onde uma pessoa puder fazer o serviço, ele não contratará dois, exemplificando que, mesmo pagando o salário mínimo a essa 2ª pessoa desnecessária, deixaria de pagar benefícios para a coletividade, pois estaria pagando a uma só pessoa. Muito justo!

Segundo, ele disse que durante todo o tempo de trabalho junto a administração que estava saindo, com a comissão de transmissão do cargo, ele não convocou nem se reuniu com nenhum dos vereadores, pois respeita a finalidade pela qual o vereador foi eleito e ele não pretende comprar a consciência de ninguém distribuindo benesses da prefeitura. Respeita a liberdade que o Legislativo deve ter para aprovar ou não as leis de importância para o município, mesmo que isso implique que ele não terá maioria na câmara. Muito justo!

Agora, eu ouvi essas palavras de um homem com convicções éticas e disposição para coloca-las em prática. Antevejo as dificuldades que ele irá encontrar dentro de uma estrutura política viciada, política essa que contribuiu para a sua vitória e até com ações radicais de orientação de mudança de voto de última hora. São essas forças que irão levar ao novo prefeito a cobrança pelo que foi feito, mesmo que ele não tenha pedido isso a tal preço.

O próximo passo a ser observado na prefeitura de Ceará-Mirim é com relação a coerência do atual prefeito. Ele será capaz de colocar nas suas ações práticas as intenções que demonstrou no discurso? Será capaz de negar benefícios aos vereadores, que estão comprometidos com seus eleitores, e não empregar pessoas desnecessárias ao município? Será capaz de desautorizar ações politiqueiras de seus auxiliares que trocam funcionários necessários e competentes por outros de seu interesse particular? Acima das competências técnicas e administrativas que cada gestor deve realizar, está a capacidade de colocar na prática as intenções do prefeito, como deve ser feito por cada “cargo de confiança”, pois, se assim não for suas intenções, não deve aceitar o cargo.

Os 100 primeiros dias da nova administração irá mostrar se teremos uma nova forma de fazer política no Rio Grande do Norte. Iremos observar a coerência e a coragem do novo prefeito ao levantar a bandeira da ética política no cipoal de corrupção que está mergulhada a politicagem brasileira.