Contemporaneidade

Houve uma época em que nosso país ocupava o interesse da comunidade internacional – entenda-se, mais flagrantemente o interesse dos EUA, com a sua presença preponderante junto à OTAN e à OEA. Foi a época em que Foster Dulles e John Kennedy, dentre outros na matriz, conspiravam a favor de uma intervenção militar em nosso país. Que seria realizada por eles mesmos, se houvesse necessidade. Mas não foi preciso, face à adesão de generais das nossas FFAA. E isso por quê? Porque ousávamos pretender caminhar com as próprias pernas. Sem a necessária observância de diretrizes externas.

No curso desses momentos, em maio de 1959, Brizola, no Rio Grande do Sul, “desapropriou os bens da Companhia Telefônica Nacional, subsidiária da multinacional americana ITT (Internacional Telephone and Telegraph)”. Granjeando uma enorme antipatia do jornal O Globo, dos militares temerários ao comunismo, embora Brizola nada tivesse de comunista, e fazendo os americanos ficarem de orelhas em pé. Juntando-se a isso uma indiferença de brasileiros não muito interessados na integridade do país. Uma atitude, a do Brizola, de caráter tipicamente nacionalista, bem ao estilo do sempre lembrado gaúcho de Carazinho.

Ainda no curso desses momentos, a bem da verdade, durante a própria ditadura, pretendeu-se o enriquecimento de urânio em território nacional. Uma lúcida iniciativa, certamente de setores nacionalistas do meio militar, logo questionada pela comunidade internacional (leia-se EUA), preocupada com os fins que seriam dados a tal enriquecimento. Porque sendo pacíficas ou não pacíficas as intenções, só eles podiam ou podem ter esse direito. Como se o Brasil estivesse preocupado com a expansão de seu território ou assentamentos habitacionais em áreas que não nos pertencem. Privilégio, com o aval estadunidense, de determinado satélite americano no Oriente Médio.

Tudo isso demonstra a indisfarçável preocupação que causávamos às grandes potências interessadas na erradicação de qualquer perspectiva de nacionalismo ou de crescimento que pudéssemos ter. Não só nós, brasileiros, mas todo o Terceiro Mundo. Especialmente Nicarágua, Colômbia, Chile, El Salvador, etc.

No mundo existe um grupo fechado de nações desenvolvidas. Quanto menor for esse grupo, maiores serão as repartições dos benefícios para os seus integrantes. Então, não interessa muito a admissão de concorrentes.

De qualquer modo, à época os problemas brasileiros não podiam deixar de ser considerados com expressiva atenção sob a ótica externa.

Hoje a situação parece diferente, embora nossos problemas, a rigor, continuem os mesmos. A comunidade internacional aprecia com tranquilidade a degeneração da vida nacional causada por nós mesmos. Eles não precisam intervir. O subdesenvolvimento está garantido a partir das administrações incompetentes, perdulárias e manchadas por ilicitudes sob as quais temos vivido. Basta ver o que aconteceu com o Estado do Rio de Janeiro, praticamente dilapidado financeiramente no governo Sérgio Cabral, e a que ponto de inoperância financeira chegou a nossa Petrobrás sob o comando de gestores indicados pelos governos petistas.

Agora nossos problemas, que devem ser considerados do ponto de vista interno com maior exclusividade, deixam de situar o Brasil na esfera de preocupações da comunidade internacional. Eles não precisam mais usar de ingerências ou torcer para que andemos para trás. Nós mesmos nos encarregamos disso.

Rio, 0705/2017

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 07/05/2017
Reeditado em 20/06/2017
Código do texto: T5992513
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