SENZALA E CASA GRANDE

SENZALA E CASA GRANDE

Antônio Mesquita Galvão

Os descaminhos ético-morais dos tempos recentes criaram um radicalismo sociopolítico que estão levando o país a uma cruel luta de classes como nunca houve. Um governo para os pobres, como afirmou Luiz Fernando Veríssimo “é uma ameaça aos senhores da Casa Grande”. O fato inconteste é que a burguesia quer a Senzala de volta, lavando, passando, limpando o cocô das privadas. A classe alta antes tinha medo dos pobres, hoje que tem o respaldo espúrio da grande mídia, do governo, dos legisladores e do judiciário, revelou que esse temor vai além. Os ricos agora revelam de forma manifesta, às escâncaras, que têm ódio dos pobres, dos negros, dos desempregados, dos que não foram à escola. Os golpes políticos sempre se embasaram nessa ojeriza. A classe abastada usou o Parlamento e o Judiciário para manipular, fragilizar, difamar e abocanhar os privilégios da maioria. A aprovação do novo golpe, o assalto contra a legislação trabalhista e a previdência social, ora em curso, deu respaldo ao pleito das classes conservadoras, capitalistas, neoliberais, que há mais de quarenta anos postulam um “estado mínino”, fim dos sindicatos e enfraquecimento da Justiça do Trabalho e das conquistas da classe trabalhadora.

Na década de noventa, diante do recrudescimento das teorias neoliberais, chamadas de “capitalismo selvagem” instaurou-se no Brasil um sentido crítico a essa tendência excludente. Nesse período escrevi dois livros denunciando aquelas manobras: “A crise da ética., O neoliberalismo como causa da exclusão social” (Ed. Vozes, 1998, 2ª ed.) e “Ética cristã e compromisso político” (Ed. Ave-Maria, 1996).

Embora a virulência do sistema tenha se atenuado um pouco, talvez por conta da ascensão ao poder, dos partidos de esquerda e movimentos sociais, hoje nesse período pós-golpe se observa que a classe “A” virou definitivamente as costas para os pobres. A velha política dos barões do café, da carne e dos bancos parece que ressuscitou, dando espaço às idéias da exclusão social, manifestas desde o Império. Hoje, com o beneplácito dos poderes, a Casa Grande se esforça para reduzir a Senzala a seu lugar histórico de humilhante subserviência.

O grito de revolta que advém da senzala visa politizar o povo oprimido, através da oitiva do tipo do país que queremos. A classe dominante, denunciou a senadora Gleice Hoffman, “não tem projetos para o povo, só para ela própria...”. As elites nacionais, qual o deus Moloc da mitologia palestina, são especialistas em injustiça e só procuram sacrificar, imolando no fogo projetos, pessoas, crianças, sonhos... A opressão da Casa Grande sobre a Senzala nos revela uma democracia de baixa qualidade.

Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral