"DEUS NOS PROTEJA DOS ESCRAVOCRATAS"

Joaquim Nabuco, onde estiver, deverá estar revoltado com as vozes triunfantes dos escravocratas brasileiros do século 21. Percebendo, inacreditavelmente, que mais de um século depois, sua luta incessante pela abolição da escravatura do Brasil foi em vão. Uma escravidão um tanto diferente, é claro, mas não menos cruel ou desumana. Não existem mais os chicotes que açoitavam os escravos, mas renasceu uma legislação que acorrenta o trabalhador ao empregador, condicionando-o a condições de submissão sem direito a questionamentos

Forças dominantes se manifestam vitoriosas porque enfim conseguiam fazer prevalecer seus interesses ambiciosos de enriquecerem a custa do suor dos seus empregados. Ora, se o trabalho não tem mais a proteção legal, fica a liberdade patronal para impor suas regras nas relações trabalhistas. Então a balança da justiça social só vai pender para um lado, em detrimento do outro.

Causa perplexidade ver um ministro do Tribunal Superior do Trabalho defender que “a retirada de direitos do trabalhador é um meio para gerar empregos”. É inadmissível se pensar que a produtividade do setor econômico deva ser alcançada com a degradação da pessoa do trabalhador. O que promove a geração de emprego é desenvolvimento social e econômico, obtido através de investimentos nos setores públicos e privados, aumentando, por consequência, os níveis de consumo.

Soa como uma aviltante falta de sensibilidade social defender essa reforma trabalhista nos termos em que foi aprovada e que passará a ter vigência no próximo sábado. Teremos agora um perigoso desequilíbrio nas relações de trabalho, favorecendo extraordinariamente o patronato.

Infelizmente a cultura escravocrata continua viva. Só nos resta repetir a célebre frase da Princesa Isabel: “Deus nos proteja dos escravocratas”.

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 08/11/2017
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