NÃO VAMOS CRIMINALIZAR A POLÍTICA

Há em curso um processo de criminalização da política urdido pelas forças reacionárias e a imprensa conservadora, com o propósito de excluir o protagonismo popular das decisões nacionais. Por trás do discurso de combate à corrupção existe uma indisfarçável intenção de promover uma incultura cívica que desmotive os cidadãos a exercerem seu papel enquanto atores políticos.

Os escândalos são preferencialmente os destaques na grande mídia, incutindo, principalmente nas camadas da sociedade com menos consciência crítica, a idéia de que todos os políticos são iguais, nivelando-os por baixo. Isso induz boa parte da população a defender fechamento do congresso, volta dos militares ao poder e até a falsa convicção de que deveremos eleger alguém que venha com uma retórica demagógica de que será diferente, a recorrente aposta no “salvador da pátria”, que nos levou historicamente a tantas frustrações.

A democracia não convive com omissão de questionamentos e ações próprios do exercício da política. Não devemos confundir política com politicagem. Não podemos imaginar que política consiste exclusivamente no ato de votar ou ser votado. A política, com “p” maiúsculo, consiste na busca de resolução dos problemas de interesse público. Para tanto, exige-se postura ética e moral. Cabe ao povo fazer o julgamento dos seus representantes nas urnas, afastando aqueles que são contumazes nos desvios éticos enquanto no exercício de suas atividades políticas.

O combate à corrupção é um dever de todos nós. No entanto, não pode ser utilizado para generalizar a classe política como corrupta, simplesmente porque boa parte esteja agindo desavergonhadamente em sentido contrário ao que deveria praticar. Se perdermos a confiança na nossa capacidade de fazer um expurgo na ação política de nosso país, estaremos admitindo que a democracia é um sistema maléfico. É exatamente isso que esse processo de criminalização da política pretende. Afastar o povo das decisões democráticas, deixando nas mãos dos que desprezam as causas sociais o destino de nossa nação.

É preocupante ver alguém dizer que não vota em mais ninguém porque todos são corruptos. Essa afirmação é a mais completa admissão de analfabetismo político. Terreno fértil para os que detestam a democracia. Quando nos recusamos a fazer política, transferimos essa responsabilidade para os que querem nos impor suas vontades sem dar importância às demandas sociais. Devemos ter a responsabilidade de saber escolher nossos representantes, livremente, sem nos deixarmos ser influenciados pela tática diversionista dos que querem efetivar a perpetuação das elites tradicionais no poder, em prejuízo do que interessa à coletividade.

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 22/11/2017
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